O Prêmio Nobel de Física de 2021 foi concedido nesta manhã a três físicos que trabalharam nos chamados sistemas complexos. O japonês Syukuro Manabe e o alemão Klaus Hasselmann compartilharam metade do prêmio por criarem modelos de simulação do clima da Terra. A outra metade do prêmio foi para o italiano Giorgio Parisi por suas teorias que explicam a desordem e a flutuação em sistemas físicos.
Sistemas complexos são a área da física e da matemática onde se popularizou a chamada “teoria do caos” algumas décadas atrás. Eles tratam de conjuntos de elementos que são numerosos e interagem entre si de diferentes formas, tornando seu comportamento difícil de prever e de simular.
As aplicações mais relevantes dos trabalhos premiados neste ano foram na área da climatologia. Manabe, da Universidade de Princeton, e Hasselmann, do Instituto Max Planck de Meteorologia em Hamburgo (Alemanha), ajudaram a entender o papel da variabilidade do clima e a aumentar a confiabilidade de simulações que fazem previsões sobre o aquecimento global.
O trabalho de Parisi, da Universidade La Sapienza, de Roma, foi particularmente importante para integrar a física de diferentes escalas, sendo aplicavel a pequenos conjuntos de átomos e também a sistemas planetários.
No estudo do clima, o italiano de 73 anos foi particularmente importante em pesquisas sobre os períodos glaciais da Terra. Parisi concedeu uma entrevista coletiva por telefone durante o anúncio do prêmio.
“Eu fiquei muito feliz. Eu realmente não esperava ganhar, mas eu sabia que tinha alguma chance”, afirmou o italiano.
O cientista usou a oportunidade para realçara importância do planeta de avançar nas suas metas de cortes de emissão de gases do efeito estufa para combater o aquecimento global.
“É urgente tomarmos decisões que tenham força e nos movimentarmos em um ritmo muito rápido, porque estamos em uma situação em que sofremos efeitos acelerados da interferência sobre o clima. Nós devemos às futuras gerações atuar agora, de maneira muito rápida”, afirmou.
Além de continuar trabalhando em modelos matemáticos para entender a dinâmica dos estoques de gelo no planeta, Parisi diz que se dedicou a entender melhor a matemática por trás da epidemia da Covid-19. Ao longo de sua carreira, seu trabalho influenciou não apenas físicos, mas encontrou aplicação em outras áreas onde sistemas complexos são estudados, como na biologia, na neurociência, na inteligência artificial e na própria matemática pura.
Variação do clima
Hasselman e Manabe não participaram da entrevista coletiva na manhã desta terça-feira. O trabalho dos cientistas foi apresentado pela comissão que anunciou a concessão do prêmio.
Manabe, de 90 anos, demonstrou como níveis maiores de CO2 na atmosfera levam a temperaturas maiores na superfície da Terra. Na década de 1960, ele criou simulações matemáticas que incluíam a movimentação vertical de massas de ar e foram importantes para aprimorar o entendimento da mudança climática. O seu trabalho encontra aplicação em modelos usados até hoje.
Hasselmann, de 89 anos, desenvolveu seus trabalhos seminais na década seguinte. Ele criou modelos para integrar o entendimento do tempo e o do clima, ou seja, a compreensão dos sistemas terrestres em duas escalas temporais diferentes. Seu trabalho ajuda a explicar, por exemplo, por que algumas previsões de longo prazo de mudança climática são confiáveis apesar de a meteorologia de curto prazo ter uma variabilidade mais caótica e mutável.
Pela divisão estabelecida pelo Nobel, Parisi ficará com metade do valor de 6 milhões de coroas suecas (US$ 1,15 milhão) do prêmio. Hasselman e Manabe ficarão com um quarto da premiação cada um.
Como de costume, a premiação na categoria de Física foi a segunda a ser anunciada neste ano. Ontem, a Comissão do Nobel anunciou a concessão do prêmio de Medicina e Fisiologia a cientistas que descobriram os receptores celulares da sensação de temperatura e toque no corpo.