Pesquisa recente da plataforma Progress Hub, que monitora a implementação das propostas da Convenção-Quadro da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Controle do Tabaco, 12,6% população adulta do Brasil fuma, sete pontos percentuais menos que a média global.
Entretanto, o país ocupa o 1º lugar na região das Américas em propostas como redução da interferência da indústria, regulamentação do conteúdo dos produtos de tabaco e coordenação da vigilância e da investigação dos produtos ligados ao tabagismo. Visando isso, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) divulgou as consequências do hábito de fumar para a saúde da pele, cabelos e unhas.
“As toxinas presentes no cigarro danificam o colágeno e a elastina, proteínas responsáveis pela elasticidade e firmeza da pele, e causam estresse oxidativo, o que acelera o envelhecimento”, diz Aline Bressan, Coordenadora do Departamento de Dermatologia e Medicina Interna da SBD.
Os cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes, também representam sérios riscos à saúde. “Estudos apontam potenciais riscos à saúde pública, principalmente para os jovens, não só no que diz respeito aos cuidados dermatológicos, mas na saúde do indivíduo como um todo, podendo afetar inclusive órgãos, como o pulmão, gerando graves problemas respiratórios”, afirma Heitor de Sá Gonçalves, presidente da SBD.
Segundo pesquisas do Ipec, 2,9 milhões de adultos utilizavam os aparelhos em 2023 (1,8% da população), enquanto quatro anos antes eram menos de 500 mil consumidores no país (0,3% da população).
Bressan explica que em termos dos cuidados dermatológicos, além de favorecer o envelhecimento precoce, os produtos químicos presentes nos líquidos dos vapes podem ser irritantes, causando vermelhidão, reações alérgicas e até mesmo retardando a cicatrização e agravando lesões inflamatórias pré-existentes, como a acne.
O melasma, uma condição que causa manchas escuras na pele, é outro problema devido ao acúmulo de toxinas encontradas tanto no tabagismo como nos vapes. Assim como a queda de cabelo que também é um fator que impacta os fumantes, devido ao afinamento capilar, e as unhas que podem ficar quebradiças e amareladas.
Entre as doenças sistêmicas, a psoríase pode ser agravada ou desencadeada pelo fumo.
“A primeira forma de tratamento é o indivíduo parar de fumar, ter uma alimentação rica em antioxidantes, como vitaminas C e E, proteger a pele do sol e manter hidratada. Procedimentos dermatológicos como peeling químico, microagulhamento e laser podem ser benéficos ao estimular a produção de colágeno e remover células danificadas”, orienta Bressan.
Os médicos recomendam que os fumantes busquem auxílio dermatológico ao notar sinais como rugas acentuadas, pele sem brilho, cabelos quebradiços ou unhas amareladas. “Esses sinais indicam que a saúde dermatológica está sendo impactada e que um tratamento especializado pode ser necessário”, conclui a médica dermatologista.
Manifesto
A Sociedade Brasileira de Dermatologia, juntamente com outras 79 entidades médicos, incluindo Associação Médica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), assinaram uma carta nesta semana forçando a posição contrária ao Projeto Lei 5.008/2023, que pretende permitir, com regras, a venda de cigarros eletrônicos no Brasil.
A carta foi entregue a uma Comissão do Senado, reforçando a posição contrária das entidades. “Acreditamos que a legislação deve proteger a saúde da população, portanto nos unimos às demais entidades contra a comercialização de um produto que não tem evidências de segurança”, afirmou Heitor de Sá Gonçalves, presidente da SBD.
Desde 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe a importação, a comercialização e a propaganda dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs). Em abril deste ano, após uma longa reavaliação sobre o tema, o órgão decidiu manter o veto aos dispositivos.
A decisão foi celebrada pelas principais entidades médicas no país, que argumentam que a liberação colocaria em risco o sucesso brasileiro no combate ao tabagismo.