Os adolescentes estão consumindo mídia digital mais do que nunca, passando, em média, quase duas horas por dia no YouTube e 1,5 hora por dia no TikTok. E isso não agrada a alguns de seus pais. Cerca de metade dos adolescentes que relatam passar muito tempo online dizem que discutem com os pais sobre isso, de acordo com uma pesquisa do Pew Research Center realizada no ano passado.
Especialistas afirmam que é hora de parar de dar sermões e começar a ouvir. A exposição a conteúdos negativos, como violência, uso de substâncias, automutilação ou imagens corporais prejudiciais, pode ser nociva para os adolescentes, mas os adultos podem mitigar esses efeitos negativos iniciando conversas abertas, segundo as novas diretrizes da Associação Americana de Psicologia (APA) sobre visualização saudável de vídeos por adolescentes, divulgadas na quarta-feira.
“É realmente importante que os pais abordem os adolescentes com curiosidade, em vez de confronto”, diz o professor associado de psicologia da Universidade Pepperdine, Erlanger A. Turner.
Quer saber como fazer isso? Recorremos ao professor Turner e a outros especialistas — todos eles contribuíram para as novas diretrizes da APA.
Aqui estão cinco maneiras de iniciar conversas para ajudar sua família a ter discussões mais produtivas sobre algumas das forças mais poderosas na criação de vídeos atualmente: influenciadores e inteligência artificial.
1) Você já viu um vídeo gerado por IA? Se sim, como sabe?
Vivemos em um mundo repleto de falsificações digitais, diz o diretor científico da APA, Mitch Prinstein.
Mas nossos cérebros são programados para acreditar no que vemos, afirma Prinstein, por isso é necessário um “esforço consciente” para perceber: “Espere, isso pode não ser real. Essa pessoa pode nem existir. Ela pode não parecer assim”, explica Prinstein.
Tente examinar, junto com seu adolescente, os vídeos realistas mencionados neste artigo do New York Times e adivinhar quais imagens são falsas.
A IA às vezes é usada para alterar vídeos com o objetivo de espalhar desinformação. Você pode aprender mais sobre alegações falsas e como elas se propagam jogando o game Get Bad News, que expõe jovens a partir de 14 anos às estratégias de criação de notícias falsas. Outra opção é o quiz Spot the Troll (em inglês), da Universidade de Clemson, que desafia os jogadores a decidir se contas de redes sociais são reais.
Adolescentes podem aplicar essas habilidades de reconhecimento no dia a dia, ajudando-os a identificar conteúdos falsos ou declarações enganosas enquanto assistem a vídeos.
2) Quais são, na sua opinião, os “prós” e “contras” da IA?
Formular a pergunta dessa forma mostra interesse na opinião do adolescente, explica Turner. Além disso, considerar tanto os pontos positivos quanto os negativos da IA permite uma discussão mais equilibrada.
Pergunte o que seu filho ouviu sobre IA entre os colegas, sugere Turner, dando-lhe a oportunidade de “ser o especialista” e ensinar algo a você.
Se você se sentir perdido e precisar de uma introdução sobre IA, o guia da Common Sense Media sobre IA generativa pode ajudar.
3) Quem são alguns dos seus YouTubers favoritos?
Essa pergunta pode abrir conversas sobre como os criadores de conteúdo ganham dinheiro, por que escolhem certos tópicos e os tipos de conteúdo que podem ser “inadequados ou desalinhados com os valores da sua família”, diz a psicóloga da Universidade Brown, Jacqueline Nesi, que estuda o impacto das redes sociais na saúde mental dos adolescentes.
4) O que mais você anda assistindo?
Às vezes, uma pergunta ampla pode ser a mais reveladora. “É completamente impossível monitorar tudo o que seu filho está assistindo”, diz Prinstein, que é pai de dois filhos, de 12 e 14 anos.
Embora ele faça questão de assistir filmes ou programas de TV juntos em família, também verifica regularmente com seus filhos o que eles veem sozinhos ou em seus dispositivos. Até agora, afirma, eles têm sido receptivos a essas conversas.
5) Você já viu algo assim na vida real?
Essa pergunta pode ser útil quando seu filho assistiu recentemente a algo perturbador, como uma pegadinha arriscada, conteúdo relacionado à automutilação ou vídeos “pro-ana”, que promovem distúrbios alimentares.
É importante manter a calma. Se seu filho disser que viu um vídeo sobre automutilação porque alguém na escola faz isso, uma resposta neutra poderia ser: “Ok, vamos conversar sobre isso”, sugere Prinstein. As informações são do jornal O Globo.