A mudança do clima é uma das três prioridades da presidência brasileira no G20, que começa nesta segunda-feira (18), no Rio de Janeiro. Os temas foram debatidos no G20 Social, iniciativa do Brasil para ouvir as demandas da sociedade civil que serão apresentadas aos líderes mundiais. Participantes de vários cantos do País e do mundo lotaram as primeiras filas. Todos interessados num tema difícil: a reforma da governança global, uma das prioridades do Brasil no G20.
Segundo o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, o contexto “é difícil para o multilateralismo”, já que a cúpula “está sendo realizada em um cenário de maior incerteza sobre a capacidade do grupo de propor diretrizes comuns para a governança global”. Ainda assim, o “Brasil conduziu com muita habilidade o trabalho do G20 ao longo deste ano”.
A reforma da governança global é defendida pela ucraniana Oleksandra Matviichuk e o russo Aleksandr Cherkasov, defensores dos direitos humanos e ganhadores do Prêmio Nobel da Paz em 2022. O Brasil defende mudanças nas instituições internacionais, como a ONU, para que mais nações tenham voz. Oleksandra afirma que essas organizações devem ser capazes de garantir direitos humanos e segurança para as pessoas, independentemente de onde elas vivem.
“A França apoia plenamente as prioridades estabelecidas pela presidência brasileira do G20. Com relação à reforma da governança global, concordamos com o Brasil que os países emergentes e em desenvolvimento precisam desempenhar um papel mais forte nas instituições internacionais”, disse Lenain.
Se por trás da janela o público pode ver a poluição de combustíveis fósseis na Baía de Guanabara, dentro do armazém, centenas de pessoas acompanham um debate que vai no sentido oposto: sustentabilidade e transição energética justa.
O Brasil defende que as principais economias do planeta assumam o compromisso de reduzir de forma mais rápida as emissões de carbono. E promete dar o exemplo, estimulando mudanças na forma como produzimos alimentos.
“É um tema onde o país tem, digamos, ‘cacife’ para poder se manifestar, dar opinião e, inclusive, cobrar dos países mais rico o que ele deseja, que é o apoio financeiro para que haja algum tipo de adaptação e que se atinja um estágio de desenvolvimento sustentável”, explica Miriam Gomes Saraiva, professora de Relações Internacionais da UERJ.
Sob a missão espinhosa de presidir um encontro com um pano de fundo tão turbulento, o Brasil adotou a estratégia de levar às negociações um tema mais agregador e caro à Brasília: o combate à fome e à pobreza. A Aliança Global contra a Fome a Pobreza, que será lançada formalmente na segunda-feira, tem como objetivo estabelecer uma forma de captação de recursos e conhecimentos para a implementação de políticas públicas e tecnologias sociais eficazes para a erradicação da fome e da pobreza no mundo.
O mecanismo, que já tem adesão de sessenta países, será gerido pelo governo brasileiro e pela FAO, órgão da ONU para agricultura e alimentação. “Em termos de desigualdades, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza proposta pelo Brasil está perfeitamente alinhada com nossos compromissos internacionais com a segurança alimentar. No final de março de 2025, a França sediará uma cúpula em Paris sobre Nutrição para o Crescimento (N4G) com os mesmos objetivos”.
Declaração
Divulgado no final da tarde desse sábado, o texto da declaração final do G20 Social pressiona os governos dos países do grupo a adotarem medidas com objetivos mais ambiciosos. É o que avaliam diferentes entidades e organizações da sociedade civil que participaram das discussões que subsidiaram a construção do documento. Para elas, é preciso um compromisso mais firme no enfretamento das mudanças climáticas e das desigualdades.
A taxação dos super ricos é citada na declaração como caminho para financiar políticas sociais e ambientais. Para o Observatório do Clima, rede que reúne diferentes entidades ambientalistas da sociedade civil brasileira, este é um debate central.