Terça-feira, 19 de novembro de 2024
Por Tito Guarniere | 30 de maio de 2020
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
As coisas vão ficando mais claras. Uma pesquisa com mais de 96 mil internados em 671 hospitais, seis continentes, demonstrou o que já era possível intuir: o uso da cloroquina, da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19 não tem nenhuma serventia, e até aumenta o risco de arritmias e as chances de óbito.
E não é uma ou outra dessas drogas sozinhas. Mesmo combinadas com antibióticos, como a azitromicina, os efeitos são os mesmos, a inocuidade ou a piora das condições do doente.
Não é a opinião pessoal e teimosa de palpiteiros, como Donald Trump e Jair Bolsonaro. Não vem das redes sociais – esse buraco negro de ignorâncias majestosas. Vem de uma pesquisa realizada por uma instituição de prestígio mundial, a Universidade de Harvard (Boston, EUA), em parceria com uma respeitadíssima publicação médica britânica, The Lancet.
Quem tiver juízo, não apenas permanecerá em isolamento social, como, em caso de contrair o coronavírus (toc, toc, toc! – três batidas na madeira) ao entrar no hospital deixará claro aos médicos: cloroquina, não!
A pesquisa foi divulgada semana passada, dois dias depois que Bolsonaro, agindo como um médico charlatão, de canetada determinou um novo protocolo, flexibilizando o uso da droga para os infectados da doença. O MMS, Ministério Militar da Saúde, acatou sem discutir.
Para quem é sensato, a pesquisa dá um certo alívio, um problema a menos, uma dúvida a menos. E para quem continuar acreditando mais em Trump e Bolsonaro, o que fazer? Se ficarem doentes – espero que não fiquem – exijam dos médicos o tratamento com cloroquina. Antes, porém, como manda o protocolo malandro de Bolsonaro, devem assinar um documento livrando a cara das autoridades do Estado, do Ministério da Saúde e dos profissionais médicos que a prescrevem, de qualquer eventualidade desagradável que possa acontecer – como é o caso de óbito.
Bolsonaro, um dia depois da divulgação daquela que é a mais abrangente e confiável pesquisa a respeito, preso à sua teimosia operosa, não abriu mão das suas convicções: continuou afirmando que a cloroquina é o único remédio que se conhece para a covid-19 – o que é um formidável disparate.
Da reunião que expôs as entranhas do que é o (des)governo, e o coletivo de aloprados, destemperados e ignorantes que formam a equipe ministerial, Bolsonaro reclamou das falhas dos órgãos de informação do Estado. Disse que tem o seu time particular para saber das coisas que se passam no país. É assustador que nem os órgãos de Estado nem o serviço particular de informações que o presidente alega ter, o tenham avisado da pesquisa Harvard-The Lancet.
Trata-se de um estudo praticamente definitivo. É preciso que haja uma nova pesquisa, com número igual ou superior de infectados, que tenham usado cloroquina, promovida por instituições de igual peso e confiabilidade, para que ela seja desmentida.
Não creio que Bolsonaro saiba da importância de Harvard ou da credibilidade de The Lancet. E se depender daqueles que se pronunciaram na reunião dos 37 palavrões, não há o menor risco de terem tomado conhecimento ou dado atenção ao estudo. Essa gente não se destaca pela inteligência.
titoguarniere@hotmail.com
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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