Sábado, 01 de março de 2025
Por Redação O Sul | 28 de fevereiro de 2025
A piora nas expectativas de chuva para os próximos meses, associada à provável manutenção das altas temperaturas, tem feito com que a possibilidade de acionamento da bandeira tarifária amarela apareça mais cedo nos modelos matemáticos dos especialistas que acompanham o tema. Para o mês de março, especialistas consultados pelo Estadão/Broadcast seguem esperando bandeira verde, mas aumentaram as apostas de volta da cobrança adicional na conta de luz em maio, o que acrescentaria R$ 1,88 a cada 100 quilowatts (kWh).
A Ampere Consultoria, por exemplo, avalia que as bandeiras tarifárias devem permanecer verdes até abril, sem cobrança adicional dos consumidores, e amarelas no restante do ano. Segundo o sócio consultor da empresa, Guilherme Ramalho de Oliveira, a perspectiva para o primeiro quadrimestre se deve principalmente às condições do período úmido, que está em andamento, combinadas à tendência de indicador de risco hidrológico (GSF, no jargão setorial) relativamente elevado, incluindo valores que apontam energia secundária nos meses de fevereiro e março.
“Mas a tendência de degradação do cenário hidrológico e aumento do PLD (preço de energia) deve mudar o cenário a partir de maio, com a adoção da bandeira amarela”, disse.
O gerente de Inteligência de Mercado da Electra Energy, Gabriel Apoena, cita que já se observa a escalada do PLD previsto para março, que deve alcançar média mensal acima dos R$ 300 por megawatt-hora (MWh) no mês que vem, ante valor abaixo dos R$ 100/MWh estimado para fevereiro.
Esse aumento, porém, não será suficiente para alterar a coloração da bandeira, por ora, uma vez que o GSF está elevado. “A tendência é de que os próximos meses continuem com uma maior volatilidade de mercado.”
Os cenários de sensibilidade testados pela Câmara de Comercialização de Energia (CCEE) também passaram a considerar maior chance de acionamento de bandeira amarela ainda no primeiro semestre. No início do mês, apenas o cenário de mais adversidade de geração elétrica previa bandeira amarela em maio, quadro que seria mantido em junho.
Na mais recente atualização, divulgada na semana passada, o mesmo cenário manteve a bandeira amarela em maio e passou a considerar acionamento de bandeira vermelha patamar 1 em junho. Já em um cenário um pouco mais ameno, que antes considerava bandeira verde em maio e amarela em junho, passou a considerar este acionamento também em maio, escalando para vermelha 1 no mês de junho.
Relatório recente da XP também cita a perspectiva de acionamento de bandeira amarela a partir de maio, e acrescenta que, a partir de julho, haveria bandeira vermelha 1 ou 2, voltando para amarela apenas em novembro e verde em dezembro, a depender da próxima estação chuvosa.
“Bandeiras acima da verde devem ocorrer mesmo com cenário de reservatórios em níveis historicamente satisfatórios – deve pesar na equação o GSF (medida de risco que analisa a relação entre a energia produzida e a garantia física de cada usina)”, escreveram os analistas do banco, que até então consideravam perspectiva de bandeira verde ao longo de 2025.
Já a PSR Energy passou a considerar “chance considerável” de acionamento de bandeira amarela a partir de junho. Anteriormente, explica o líder de inteligência de mercado da consultoria, Mateus Cavaliere, as projeções apontavam menor probabilidade de cobrança adicional no primeiro semestre e perspectiva de que isso ocorresse em julho ou agosto. Contudo, começou a pesar a perspectiva de antecipação do fim do período úmido, alterando as expectativas com o enchimento dos reservatórios das hidrelétricas.
A MCM Consultores Associados também incorporou em suas projeções bandeira amarela a partir de julho, assim permanecendo até novembro e voltando para verde em dezembro. Segundo a consultoria, do ponto de vista inflacionário, o impacto é neutro do ano, já que a expectativa é de terminá-lo com bandeira verde.
Sistema
O sistema de bandeiras tarifárias foi criado em 2015 para sinalizar aos consumidores o custo da geração no País antes do reajuste anual das tarifas de energia. A intenção é, de um lado, estimular o uso mais consciente em momentos de custos elevados de geração elétrica; de outro, evitar o carregamento deste custo com a incidência de juros até o reajuste anual das distribuidoras. Assim, conforme as condições de geração, valores extras são cobrados mensalmente e transferidos às distribuidoras, que fazem a compra da energia, por meio da “Conta Bandeiras”.
Na bandeira verde não há cobrança adicional. Já a amarela gera, atualmente, cobrança adicional de R$ 1,885 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Na bandeira a vermelha 1, o valor cobrado salta a R$ 4,463 para cada 100 kWh, enquanto na vermelha 2 chega a R$ 7,877 a cada 100 kWh.
O acionamento considera três gatilhos: Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) da primeira semana operativa do mês, nível de risco hidrológico (GSF, na sigla em inglês) e geração fora do mérito de custo, sinalizada pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). (Estadão Conteúdo)