Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de novembro de 2023
No esquema de tráfico internacional de drogas, uma tática comum para tentar driblar a fiscalização dos aeroportos é o uso das chamadas “mulas”: pessoas que transportam entorpecentes dentro do próprio corpo, para entregarem o material a traficantes de outro país.
Engolir cápsulas de cocaína, por exemplo, ou colocá-las na vagina e no reto são técnicas altamente arriscadas para a saúde – podem provocar convulsões, desmaios por dor, intoxicação, rompimento de órgãos e morte.
Em São Paulo, nessa quinta-feira (23), um homem foi preso por treinar mais de 30 “mulas” que engoliriam drogas e as levariam para a Europa. Na última semana, em 14 de novembro, seis passageiros nigerianos também foram detidos após serem flagrados com cápsulas de cocaína no estômago no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.
– Quais as técnicas (de risco) para inserção da droga no corpo? Paula Carpes Victório, farmacêutica e mestre em toxicologia pela Universidade de São Paulo (USP), explica que a droga é, em geral, envolta em um material plástico – em várias cápsulas ou saquinhos pequenos. Esses invólucros são: engolidos, aos poucos, para que fiquem no estômago durante a viagem; inseridos na vagina; ou colocados no reto.
– Pode haver rompimento das cápsulas? Sim, é comum que as cápsulas estourem. Nosso estômago secreta ácido clorídrico (HCl) para digerir os alimentos que comemos. “É muito forte e deixa o pH extremamente baixo”, afirma Victório.
“Quando mascamos um chiclete, por exemplo, o organismo entende que vamos nos alimentar e libera mais ácido para a digestão. No caso das cápsulas, o mesmo acontece: o HCl é excretado e provavelmente vai corroer o plástico que envolve a droga.”
Na vagina, o pH é ácido (menos do que o do estômago). No intestino, é alcalino, mas também apresenta potencial corrosivo. O risco de rompimento da cápsula, nos dois casos, é reduzido, mas existe. E há outro alerta: “São partes do corpo que naturalmente contraímos, seja em um susto, ao andar ou ao sentar. Isso pode fazer com que os invólucros estourem e ainda levem a uma lesão. O plástico é duro; é terrível”, diz a toxicologista.
– O que acontece se a cápsula com as drogas estourar? Se o plástico que envolve a droga for rompido, uma quantidade enorme de entorpecentes vai ser liberada no organismo.
“A substância será absorvida pela mucosa [do estômago, da vagina ou do reto], que é irrigada por vasos sanguíneos. A droga entrará em contato com as células e chegará ao sistema circulatório”, afirma Victório.
Os sintomas da overdose variam de acordo com o tipo de substância. “A pessoa pode ter convulsões, hemorragia ou até morrer instantaneamente”, esclarece a especialista.
– E se a cápsula não romper? Há algum risco ainda assim? Sim. A “mula” pode ter: dores fortíssimas no estômago, causando desmaios; vômitos; sangramento por lesões nos órgãos; e cólicas que farão com que ela caia no chão no meio do aeroporto, por exemplo.
– Quais os tratamentos possíveis? Segundo a especialista, o procedimento de retirada dos pacotes/pinos vai depender do quadro do paciente. Pode envolver: lavagem hospitalar estomacal e intestinal; retirada por endoscopia; uso de carvão ativado, para controlar a chegada da droga ao sangue; remoção manual via vagina ou ânus; e cirurgia imediata, de alto risco, quando o estômago ou outro órgão já foi perfurado.
A probabilidade de o paciente morrer antes dos procedimentos ou durante esses processos é significativa. As informações são do portal de notícias G1.