Domingo, 29 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 28 de dezembro de 2024
Invisível, silenciosa e hereditária, a hipercolesterolemia familiar (HF), condição genética que eleva os níveis de colesterol no sangue, é um dos panos de fundo para duas das doenças que mais matam no mundo: Acidente Vascular Cerebral (AVC) e infarto. A condição difere-se da forma mais comum que envolve níveis elevados de gordura no sangue porque é rara, genética e não é possível controlá-la com hábitos saudáveis de vida e alimentação. Subnotificada e pouco conhecida, a patologia está ligada à mortalidade prematura de muitas pessoas ao redor do planeta.
Uma pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas (UFMG), publicada no fim do ano passado na Scientific Reports – uma das mais conceituadas revistas científicas do mundo – mostrou que a HF afeta aproximadamente 1% dos adultos brasileiros, o que significa que 1 a cada 104 das pessoas adulta apresenta a possibilidade de receber o diagnóstico da condição. O levantamento usou dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) entre 2014 e 2015, em que foi feito o perfil lipídico dos voluntários.
O estudo, que coletou informações de quase 9 mil indivíduos, revelou que o indicador do Brasil é superior ao de diversos países, como a França – que tem prevalência de 0,85%, os Estados Unidos – 0,40% – e a China – 0,30%. Os resultados ainda demonstraram que o predomínio de casos de HF foi maior entre mulheres, nos adultos entre 45 e 59 anos, de raça/cor branca, com menor escolaridade e nas pessoas com diabetes, hipertensão e colesterol acima de 310 mg/dL.
“Esse foi o primeiro inquérito que coletou dados de colesterol em adultos brasileiros, com amostra representativa da população. O que a gente percebeu foi que as pessoas que têm essa doença podem ter acometimento desde a infância ou mesmo na fase jovem e adulta. Então, quando se tem um diagnóstico abrangente da condição no país, dá para traçar estratégias de saúde mais direcionadas para esse público específico. A HF é muito grave porque os pacientes que a desenvolvem têm risco aumentado de doença cardiovascular e cerebrovascular,” explica a autora do estudo Ana Carolina Micheletti.
Conforme a pesquisadora, o maior problema da hipercolesterolemia familiar é o fator genético. “Uma vez diagnosticado um caso da doença, a chance de detectar outras pessoas na família é de quase 50% para parentes de primeiro grau, de quase 25% em segundo grau e pode também estar presente nos parentes de terceiro grau. Aliás, essa identificação é um desafio porque muitos países não possuem registros com essas observações. Mas é muito importante reconhecer precocemente a HF porque isso melhora a qualidade de vida dos pacientes e ainda evita a mortalidade pelas complicações dela.”
A cardiologista da Santa Casa BH Patrícia de Sá destaca que a hipercolesterolemia familiar nada mais é do que um problema de mutação de um gene receptor do LDL – o colesterol ruim. “Esse canal não existe nos pacientes que têm HF ou existe numa quantidade muito menor do que numa pessoa em condições esperadas. E aí não tem o captador desse colesterol ruim na corrente sanguínea. Ou seja, o LDL vai se acumulando no sangue de forma que é impossível por meio de formas naturais o corpo eliminar essa gordura.”
Um dos grandes dificultadores para o diagnóstico menos tardio é que, segundo a médica, o paciente já chega ao hospital com um problema mais grave. “Normalmente, a pessoa está sentindo infarto, mal súbito ou angina. Quando é alguém jovem, a gente entende que não são condições normalmente esperadas para esse grupo. Por vezes, quando você vai procurar a causa, encontra níveis de colesterol altíssimos e descobre no histórico familiar, por exemplo, que a mãe daquela pessoa teve um infarto com menos de 40 anos ou que o pai teve morte súbita mal explicada ainda muito jovem. Neste momento começa a desconfiança sobre a possibilidade de HF,” enfatiza. As informações são do jornal O Tempo.