Segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de abril de 2024
Provavelmente toda mulher já aceitou que cólica é sinônimo de menstruação. As que não sentem o desconforto mensal, comemoram. As que têm cólicas leves ou moderadas recorrem a analgésicos ou uma bolsa de água quente e somente aquelas com dores muito intensas e incapacitantes acabam procurando ajuda especializada.
Entretanto, de acordo com a médica Rosa Neme, doutora em ginecologia pela Faculdade de Medicina da USP e diretora e proprietária do Centro de Endometriose São Paulo, “cólica não é normal”.
“É muito comum ouvir da paciente que ela tem uma ‘cólica normal’. Mas esse é um conceito errado propagado por muitos médicos porque cólica normal não existe. O normal é não ter cólica”, afirma Neme.
De acordo com a médica, a cólica, mesmo leve, pode ser um sintoma de endometriose. Aliás, o desconforto está presente em 90% das mulheres com a condição, que ocorre quando um tecido semelhante ao revestimento do útero cresce fora do útero. Isto leva à inflamação e à formação de tecido cicatricial na região pélvica e (raramente) em outras partes do corpo.
A endometriose é uma doença dolorosa que afeta cerca de 15% das mulheres em idade menstrual e impacta negativamente sua qualidade de vida.
Em geral, os sintomas da endometriose são: Cólica durante o período menstrual; Dor durante a relação sexual, no fundo da vagina; Dor nas costas (na região lombar); Dor para evacuar; Alteração no funcionamento do intestino durante o período menstrual (constipação ou intestino solto); Inchaço abdominal na época da menstruação; Dificuldade para engravidar; Sangramento excessivo durante a menstruação; Fadiga; Depressão ou ansiedade.
O diagnóstico começa pelo histórico da paciente. Pessoas que relatam sintomas como dor na relação sexual ou outro sintoma, em associação com cólica durante a menstruação, é um forte indício de endometriose. Em seguida, é realizado um exame ginecológico físico, no qual o médico pode sentir o foco de endometriose.
Por fim, é necessário um exame de imagem, como ultrassom transvaginal feito por um radiologista especializado em endometriose ou ressonância magnética, para avaliar a extensão do problema e definir o melhor tratamento.
No entanto, muitos médicos ainda consideram os sintomas associados à endometriose como algo normal da menstruação e a condição passa despercebida por anos. Há casos de pacientes que demoraram 15 anos até receberem o diagnóstico.
Neme conta que, atualmente, é comum a própria paciente chegar com essa hipótese diagnóstica para seu médico, após ler sobre o assunto e se identificar com a condição.
Ainda não se sabe exatamente a causa exata da endometriose, mas sabe-se que ela depende do estrogênio, o hormônio feminino. Por isso, a endometriose pode começar no primeiro período menstrual e durar até a menopausa.
“Uma jovem que tem cólica menstrual forte desde adolescência, é obrigatório o médico investigar endometriose porque tem 90% de chance disso se comprovar”, pontua Neme.
Segundo a médica, existem dois tipos de endometriose. Uma que acomete os ovários e as trompas e outra chamada endometriose profunda, que acomete a bexiga, a região retro cervical (atrás do útero) e o intestino. Em casos raríssimos, regiões muitos distantes como cérebro, septo nasal, pulmão e fígado podem ser atingidos.
A endometriose não tem cura, mas tem tratamento e quanto mais precoce, melhor. As opções variam entre a gravidade dos sintomas e a extensão da doença e incluem medicamentos como pílula, dispositivos intrauterinos hormonais, anéis vaginais, implantes e injeções anticoncepcionais.
“O tratamento da endometriose é baseado no combate ao estrógeno. Então a gente tem que diminuir a produção do estrógeno pelo ovário e isso é feito com um hormônio chamado progesterona que é o antagonista do estrógeno”, explica Neme.
Em graus avançados ou se o tratamento medicamentoso não é suficiente para controlar a doença, a cirurgia pode ser indicada. O procedimento remove lesões de endometriose, aderências e tecidos cicatriciais.
Embora as causas da endometriose ainda não sejam totalmente compreendidas, a condição está associada a fatores genéticos e ambientais. Por isso, mudanças no estilo de vida como adotar uma alimentação anti-inflamatória, fazer atividade física aeróbica regularmente e reduzir o estresse ajudam a controlar os sintomas.