Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 15 de agosto de 2024
Manter um segredo pode aumentar ansiedade e até desencadear sintomas de depressão. Ter algo que volta de forma recorrente à mente causa estresse e desgaste mental. Um profissional especializado em saúde mental pode ajudar nesse processo, pois se a situação não for tratada, poderá gerar até sintomas físicos.
Tem gente que guarda um segredo a sete chaves, com medo do julgamento alheio. Mas muitas vezes, o que era para preservar a saúde mental, pode se tornar perturbador.
“Um segredo pode se tornar um pensamento repetitivo, fixo e fora de controle”, alerta o psicólogo André Luís Masiero, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos). Por isso, esconder algo carregando culpa, medo ou vergonha pode ser muito prejudicial para a mente.
Como não é tão simples guardar um segredo, é um trabalho cansativo, a pessoa fica atenta o tempo todo, monitorando o que fala, como e com quem. De acordo com a psicóloga Graça Maria Ramos de Oliveira, supervisora do Serviço de Psicologia e Neuropsicologia do IPq HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), essa vigilância é muito exaustiva e pode aumentar ansiedade e até desencadear sintomas de depressão.
Um segredo pode trazer angústia, pois muitas vezes está associado a situações traumáticas de abuso, bullying ou algum tipo de discriminação. “O indivíduo pode acabar ocultando isso como uma defesa, para não ter que lidar com um conteúdo difícil”, explica Priscila Gasparini Fernandes, psicanalista com especialização em neuropsicologia e neuropsicanálise, com mestrado e doutorado pela USP (Universidade de São Paulo).
O segredo passa a fazer mal quando o indivíduo não para de pensar sobre o assunto, gerando ansiedade e pensamento compulsivo. Segundo Fernandes, se a situação não for tratada poderá ser somatizada e, além de provocar danos emocionais, gerar sintomas físicos como dores, fadiga, insônia e até compulsões.
Além disso, esse sigilo pode causar impacto na relação com os outros. Há pessoas que, por conta de um segredo, acreditam que transparecem uma imagem não autêntica. Isso interfere diretamente em seu bem-estar. “Ter algo que volta de forma recorrente à mente causa estresse e desgaste mental, podendo vir junto com sentimentos de solidão e isolamento”, diz Oliveira.
Afaste-se da fofoca
Sempre será válido dividir um segredo com alguém para atenuar o peso de carregá-lo e até encontrar apoio emocional. A confissão pode trazer uma libertação, aliviar uma angústia e, por isso, ser considerada tão necessária. Mas, é importante realizar uma escolha minuciosa e sensata.
Nem todos são confiáveis para esse tipo de conversa. É imprescindível realizar uma escolha segura, para não acabar caindo em rodas de boatos e fofocas e aumentar ainda mais o problema. “Falar com outra pessoa que não um psicólogo é uma atitude que deve ser bem elaborada. Busque alguém que lhe ofereça acolhimento, e não faça julgamentos”, sugere Fernandes.
Entretanto, um profissional especializado em saúde mental pode ser a pessoa mais indicada para esse processo. Se não puder marcar uma sessão de psicoterapia, tente desabafar com um médico ou algum religioso de sua confiança. “Confidenciar um segredo não reduz a frequência com que a pessoa tem que escondê-lo dos outros, mas reduz a frequência com que o segredo retorne à mente em momentos diversos”, fala Oliveira.
Quando as pessoas encontram uma maneira mais saudável de pensar sobre seu segredo, pensam menos sobre ele e melhoram seu bem-estar. Às vezes, uma única conversa é o suficiente para aliviar esse peso e angústia.