Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 5 de agosto de 2015
Em 1966, o escritor norte-americano Gay Talese escreveu o perfil do cantor Frank Sinatra para a revista “Esquire”. A entrevista que deu origem ao texto, considerado até hoje como modelo do New Journalism – gênero que mistura a narrativa jornalística com a literária – nunca aconteceu. Na época, Talese viajou até Los Angeles para encontrar o homem conhecido como The Voice e o observou durante seis semanas, em gravações para o cinema e nas mesas de jogo em Las Vegas.
Intitulado “Sinatra Está Resfriado”, o perfil explicava a razão da recusa e também revelava o grande vilão das grandes vozes. “Eu sofro muito no frio. Estou com a voz completamente velada. Praticamente, não falo”, conta a atriz e cantora Bibi Ferreira, que precisou cancelar show em São Paulo devido a uma indisposição.
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“Imagine que um atleta está com os músculos relaxados e, de repente, decide executar um salto mortal. Ele não vai conseguir”, explica, em entrevista. “Assim é a voz. Ao acordar, as cordas vocais estão relaxadas e é preciso despertar devagarinho. Aos pouquinhos vai falando, falando, aí sobe, e quando chega no palco, solta a voz.”
O repertório do show traz os principais sucessos interpretados pelo cantor, entre eles “Night and Day” (Cole Porter), “Dindi” (Tom Jobim) e “Fly Me To The Moon” (Kaye Ballard). E, para mostrar a sua canção preferida, Bibi logo dá uma amostra, cantando o refrão de “That’s Life”: “I’ve been a puppet, a pauper, a pirate, a poet, a pawn and a king”.
“Além da letra ser linda”, ela explica, “essa música permite que eu module a minha voz de muitas maneiras”. E rápida, Bibi também já aponta que “Strangers in The Night” é a que menos gosta. Tanto que a canção é apresentada apenas pela orquestra, no início do show. “Essa eu não gosto da melodia, nem da letra. Talvez por ter ouvido demais, saturar, não cansa, satura. E Sinatra também não gostava dela”, defende.
O show é acompanhado por 18 músicos sob a batuta do maestro Flávio Mendes. O roteiro foi montado e assinado por seis mãos, incluindo o empresário da cantora Nilson Raman. “Nós narramos a vida de Sinatra cronologicamente e trazemos algumas histórias curiosas, que são sempre pontuadas pelas canções”, explica ele.
E uma delas, “Rock Around The Clock”, curiosamente, não está no repertório do cantor, e é conhecida na voz de Bill Haley (1925-1981). “Foi um período de transição no qual o rock fazia muito sucesso. Conta-se que Sinatra, cansado da popularidade da música, quebrou o rádio do carro. Durante o show, o maestro brinca que Sinatra odiava aquela porcaria. Ao que Bibi responde: ‘Eu adoro essa porcaria!’.” Com o roteiro na mente, basta um ensaio, no dia anterior ao show. “O que eu não faço é ouvir minha própria voz porque me dá agonia. Eu poderia ter feito melhor”, revela.
Aos 93 anos e prestes a completar 74 de carreira, Abigail Izquierdo Ferreira, filha do ator Procópio Ferreira e da bailarina Aída Izquierdo já cantou nomes como Edith Piaf (em temporada durante mais de 25 anos), Amália Rodrigues e Carlos Gardel, além de ter se apresentado em seus respectivos países de origem − França, Portugal e Argentina.
Após a temporada em São Paulo, Bibi embarca em uma estreia, desafiadora, ou mesmo “um desaforo”, como ela mesma se diverte ao definir. A cantora voltará a Nova York depois do show Bibi n Concert. “Escute só, cantar Sinatra na terra de Sinatra vai ser um desaforo. Um ‘challenge’ (desafio)!” (Leandro Nunes/AE)