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Com a restrição de pousos e decolagens de jatos no aeroporto de Fernando de Noronha, o movimento chegou a cair 79%

Só aviões turboélices estão autorizados a interligar o incensado destino e o continente. (Foto: Agência Brasil)

Como empresário, o chef santista Dário Costa achou que nadaria de braçada em Fernando de Noronha. É onde se encontra o restaurante Benedita, sexto empreendimento gastronômico do qual é sócio – Madê, Paru, Churrascada do Mar, Deus Ex Machina e Açougue do Mar, o único que não serve refeições, são os outros cinco. Especializado em pescados e frutos do mar na brasa, assim como os demais restaurantes, o Benedita foi inaugurado em setembro de 2022.

Sucesso instantâneo, o empreendimento foi surpreendido, no mês seguinte, com uma decisão da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac): a proibição de pousos e decolagens de jatos no único aeroporto do arquipélago. De lá para cá, só aviões turboélices estão autorizados a interligar o incensado destino e o continente – atualmente, as únicas rotas disponíveis partem de Natal, Recife e Fortaleza. “Com a restrição, o movimento em Fernando de Noronha chegou a cair 79%”, afirma Costa, resignado. “O Benedita é um dos menos afetados, mas muitos empreendimentos enfrentam dificuldades.”

O veto aos jatos – um deles ia de São Paulo até o arquipélago sem escalas – se deve às condições da pista, que está soltando fragmentos em alguns trechos. Se um detrito termina dentro de uma turbina é de imaginar as consequências – daí a decisão da Anac, que considera a circulação dos turboélices segura. Em novembro do ano passado, uma obra emergencial que custou R$ 1,2 milhão diminuiu o problema. Só uma reforma propriamente dita, no entanto, poderá abrir caminho, novamente, para os jatos.

Em outubro deste ano, o governo de Pernambuco renovou a concessão do terminal com a Dix Aeroportos, que ficará responsável por ele por mais 25 anos. Dos R$ 60 milhões previstos no contrato de licitação, R$ 45 milhões deverão ser gastos com requalificação, o que inclui obras da pista, previstas para o primeiro semestre de 2024.

Em junho deste ano, o então secretário de Infraestrutura de Pernambuco, Evandro Avelar, anunciou a expectativa de concluir a primeira fase da reforma da pista em janeiro. “É o melhor mês para o turismo em Fernando de Noronha”, observa o chef santista. “E corremos o risco de não aproveitar janeiro a contento mais uma vez.”

O destino do arquipélago e o dele se cruzaram por acaso. Costa desembarcou no distrito pernambucano, pela primeira vez, em 2021. E só porque a viagem que planejava fazer com a família para o Taiti, na Polinésia Francesa, subiu no telhado – a Ilha de Páscoa, no Chile, onde seria preciso fazer uma escala, fechou as portas, de uma hora para outra, por culpa da pandemia.

Descartada a viagem para o Pacífico, o chef bateu o martelo em Fernando de Noronha, que via, admite, com certo preconceito. “Imaginava encontrar no arquipélago só lugares chiques, o que não me atrai muito, mas descobri um destino que é marcado pela busca de uma vida mais simples”, afirma. “E é disparado o lugar mais bonito que conheci.”

Na época, ele já era um chef famoso e respeitado. Participou da primeira edição do “MasterChef Brasil”, em 2016, do qual foi o terceiro colocado, e da segunda temporada do “Mestre do Sabor”, em 2020, na qual sagrou-se campeão.

Seu primeiro restaurante, o Madê, em Santos, está na ativa desde 2017. Serve pratos como linguini ao pesto (R$ 88), acompanhado de atum selado e farofinha crocante de pão, e polvo grelhado na lenha (R$ 128), guarnecido de mil folhas de batata, pasta de tomate defumado e molho aïoli de alho assado – o menu degustação custa R$ 300 ou, com harmonização de vinhos, R$ 456.

“O Madê só começou a fazer sucesso quando os paulistanos começaram a frequentá-lo”, afirma o chef, que está com 35 anos. “Foi a partir daí que os santistas passaram a dar valor.” Inicialmente, a meta de Costa era fazer do empreendimento um destino para saborear peixes sem muita invencionice.

A inspiração veio do Vescovado, restaurante com uma estrela Michelin na Ligúria, na Itália, do qual foi funcionário antes de começar a empreender. “Os peixes usados nos menus degustação deste restaurante, a € 350 por pessoa, também são pescados em Santos, embora pouca gente dê valor para eles”, afirma o cozinheiro. “Quando me dei conta disso, resolvi apostar neles no Brasil.” As informações são do jornal Valor Econômico.

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