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Com aliados eleitos, governadores de direita antecipam guerra pelo espólio de Bolsonaro

Tarcísio participou de vitórias na maioria das cidades paulistas com segundo turno. (Foto: Reprodução)

Após saírem vencedores de divididas com o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições municipais deste ano, governadores de direita como Tarcísio de Freitas (Republicanos), em São Paulo, Ronaldo Caiado (União), de Goiás, e Ratinho Júnior (PSD), do Paraná, anteciparam movimentações de olho na corrida presidencial de 2026.

Tarcísio participou de vitórias na maioria das cidades paulistas com segundo turno, e transformou a eleição em uma espécie de “grito de independência” ao ver aliados triunfarem mesmo em casos onde Bolsonaro apoiou rivais ou se esquivou da campanha. Caiado e Ratinho Jr., por sua vez, que travaram embates acirrados com o ex-presidente nas respectivas capitais, usaram o dia seguinte da votação para sinalizar ao ex-presidente que ele teria de repensar sua costura de alianças, sob risco de isolamento.

Reeleito com apoio tímido de Bolsonaro, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), chamou Tarcísio de “líder maior” no seu discurso de vitória, e repetiu ontem em diferentes entrevistas que o governador é um “grande nome” para concorrer à Presidência em 2026. O governador também mostrou capital político em outras cidades relevantes de São Paulo, e apoiou candidatos que venceram o segundo turno em antigos redutos do PSDB, como Ribeirão Preto, e do PT, como Diadema.

Ao todo, dos 30 municípios aptos a ter segundo turno, por reunirem mais de 200 mil eleitores cada, Tarcísio venceu em 21, dos quais sete não estavam com seu grupo político até este ano. Reservadamente, dois integrantes da cúpula do PL já admitiram que Tarcísio não deve mais se filiar à sigla, contrariando a expectativa de Bolsonaro e de Valdemar Costa Neto antes das eleições. A avaliação do entorno do governador é que ele consegue transitar melhor entre diferentes forças políticas fora do partido de Bolsonaro. Ainda assim, aliados seguem enxergando Tarcísio como alguém que “ouve muito” o ex-presidente, e descartam que ele se lance numa empreitada presidencial sem ter o aval do antigo chefe.

Para evitar se indispor com Bolsonaro, Tarcísio não se envolveu em campanhas relevantes em São Paulo, em municípios como Santos e São José dos Campos, onde o Republicanos compôs coligações que tiveram o PL como adversário no segundo turno. Nesses dois casos, Bolsonaro se envolveu diretamente nas campanhas e viajou às duas cidades, mas viu seus correligionários serem derrotados por nomes mais alinhados a Tarcísio.

A postura de Tarcísio é distinta à de Ronaldo Caiado, que já se coloca como pré-candidato à Presidência pelo União Brasil. Ao eleger aliados contra candidatos do PL nas duas maiores cidades goianas, ambas com envolvimento direto de Bolsonaro na disputa, Caiado declarou que “a direita não tem dono” e sugeriu que o ex-presidente precisará saber “aglutinar forças” caso queira liderar este campo e derrotar o PT, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2026.

Para o cientista político José Álvaro Moisés, professor da USP, a assertividade de Caiado — que já tentou a presidência uma vez, em 1989, e teve votação inexpressiva à época — é um dos exemplos de uma direita que se sente hoje com mais “condições de ocupar espaços”.

“Esses atores sempre existiram, mas permaneciam de certa forma ocultos, sem se sentir em condições de ocupar espaços como estão ocupando agora. Houve uma série de mudanças na vida das cidades nas últimas duas décadas, e o eleitor também parece ter se tornado muito mais crítico ao PT após denúncias de corrupção. E isso abriu espaço a forças de direita que estavam esperando sua chance de emergir”, avalia.

Uma tônica semelhante à de Caiado, embora sem referências explícitas a Bolsonaro, foi adotada pelo governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD). Ao parabenizar o aliado Eduardo Pimentel (PSD) pela vitória em Curitiba, o governador associou o revés da adversária, Cristina Graeml (PMB), a uma derrota da “raiva”. Graeml recebeu diversas sinalizações de apoio de Bolsonaro, cujos aliados passaram a fazer campanha contra candidatos do PSD em todo o país — apesar de, na capital paranaense, o PL fazer parte da chapa de Pimentel.

“Em Curitiba, a democracia recebeu um recado das urnas que serve para todo o Brasil: o equilíbrio venceu a raiva. A capital de todos os paranaenses optou por manter o caminho da paz e da união”, escreveu o governador numa rede social.

 

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