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Com Davi Alcolumbre no Senado e Hugo Motta na Câmara dos Deputados, partidos da base de Lula vão aproveitar a crise para cobrar mais caro por apoio ao governo; eleitos mandam recados ao Supremo

Hugo Motta (E) e Davi Alcolumbre (D): novos tempos no Congresso desafiam o governo. (Foto: Reprodução)

A nova cúpula do Congresso vai pressionar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a acelerar a reforma ministerial e a resolver o bloqueio das emendas parlamentares para votar projetos essenciais, como o do Orçamento de 2025, antes do carnaval. Diante de um presidente que inicia a segunda metade de seu mandato com queda de popularidade, partidos da base de sustentação do governo aproveitam a crise para cobrar mais caro pelo apoio e também querem espaço no Palácio do Planalto.

Lula sabe que não terá vida fácil pela frente, nem na Câmara, agora presidida por Hugo Motta (Republicanos-PB), nem no Senado, sob comando de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Com dificuldades em exibir uma agenda positiva, o chefe do Executivo tem contabilizado uma sucessão de más notícias – do alto preço dos alimentos à crise do Pix, passando pelo aumento dos juros – e pesquisas indicam que a aprovação do governo despencou.

Recados

Em discurso na tribuna do Senado, pouco antes de ser eleito para comandar a Casa, Alcolumbre deu uma estocada indireta no ministro do STF Flávio Dino, que bloqueou o repasse de emendas sob a justificativa de falta de transparência.

“É essencial respeitar as decisões judiciais e o papel do Judiciário em nosso sistema democrático. Mas é igualmente indispensável respeitar as prerrogativas do Legislativo e garantir que este Parlamento possa exercer seu dever constitucional de legislar e representar o povo”, disse o senador.

Na Câmara, Motta também mandou recados ao governo e ao STF, em pronunciamento após a vitória. “O que não pode haver é transparência relativa, porque o princípio é da igualdade entre os Poderes. A praça é dos três (Executivo, Legislativo e Judiciário), e não de um nem de dois Poderes”, destacou ele.

Cargos

Alcolumbre é visto na Casa de Salão Azul como uma espécie de “operador” para a liberação de emendas a redutos eleitorais. Ele já conversou com Lula sobre o que vê como problema criado pelo STF e também sobre o espaço do União Brasil na Esplanada. Saiu das reuniões convencido de que seu grupo político não perderá poder. Atualmente, o partido controla três ministérios – Comunicações, Turismo e Integração Nacional.

O novo presidente do Senado está, porém, em acirrada disputa com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), pelo controle de diretorias de agências reguladoras, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O caso foi levado a Lula, que gosta do ministro por considerar que ele defende o governo e avalia como resolver o imbróglio.

Fortalecido com a eleição de Hugo Motta, o grupo do novo presidente da Câmara, na outra ponta, quer agora emplacar o deputado Isnaldo Bulhões (AL), líder do MDB, na cadeira do ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.

Bulhões é muito próximo de Motta. Lula enfrenta problemas de articulação com o Congresso e tem sido cobrado a assumir as rédeas das negociações com os partidos para evitar o agravamento da crise. Prometeu fazer isso a partir desta semana, chamando ministros, líderes e presidentes de partidos para redefinir o espaço de cada força política na Esplanada após as eleições no Congresso.

O MDB está hoje à frente de três ministérios (Transportes, Cidades e Planejamento), mas não garante apoio ao presidente caso ele concorra a novo mandato, em 2026. Uma ala do partido avalia que, para a aliança ser renovada, o vice da chapa presidencial precisará ser emedebista, e não mais Geraldo Alckmin (PSB).

Lira ministro?

Além de resolver a equação política com o MDB, Lula tem sido aconselhado por interlocutores até mesmo do PT a levar para o governo o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL).

Expoente do Centrão e padrinho de Motta, Lira é visto como um dos poucos ali que podem aglutinar o grupo não apenas em votações, mas também para a disputa de 2026.

O nome do ex-presidente da Câmara vem sendo citado para comandar o Ministério da Agricultura, hoje com Carlos Fávaro (PSD), mas sua entrada no governo não é vista como favas contadas. A partir deste mês, Lira assumirá uma vice-presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).

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