Sábado, 18 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de outubro de 2015
Relatório do Ministério Público suíço mostra que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), usou contas secretas na Suíça para pagar faturas de cartões de crédito internacional e despesas pessoais da mulher e da filha na Inglaterra, na Espanha e nos Estados Unidos, além de outros países. Entre os gastos está até o pagamento de 59,9 mil dólares para as aulas de tênis da esposa, a jornalista Cláudia Cruz, na IMG Academies, de Nick Bollettieri, famoso professor de tênis na Flórida (EUA).
As contas estão em nomes de offshores com sede em paraísos fiscais e não foram declaradas à Receita Federal. Os suíços investigaram Cunha por corrupção e lavagem de dinheiro. A partir de agora, ele poderá ser investigado também por sonegação fiscal e evasão de divisas. Parte da movimentação já rastreada pelos suíços indica que uma das quatro contas recebeu 5,1 milhões de reais desviados de um dos negócios fraudulentos da Petrobras descobertos na Operação Lava-Jato.
Parte do dinheiro passou pela conta do lobista João Augusto Rezende Henriques, delator da Lava-Jato, e foi repassado a Cunha. Pelas informações dos suíços, o presidente da Câmara e a mulher abriram quatro contas secretas no banco Julius Bär, na Suíça, em nome de quatro diferentes offshores: Orion SP, Netherton Investments, Triumph SP e Kopek. Três contas foram abertas em 2008 e uma em 2007.
MBA
As três primeiras contas têm como titular o próprio Cunha, segundo os documentos. A Kopek está em nome de Cláudia. Duas das quatro contas foram fechadas no ano passado, logo depois do início da Lava-Jato. Outras duas contas foram bloqueadas em abril deste ano com saldo de quase 10 milhões de reais. Mas a movimentação financeira de Cunha e Cláudia é bem superior a essas cifras.
Parte dos extratos bancários indicam que as contas de Cunha e da mulher receberam pelo menos 5,9 milhões de dólares, o equivalente a 22 milhões de reais, desde que foram abertas.
Parte do dinheiro da conta da Kopek foi gasta em pagamentos à Fundacion Esade, em Barcelona, na Espanha, entre 4 de agosto de 2011 e 15 de fevereiro de 2012. No mesmo período, Danielle Cunha, filha de Cunha, fez um MBA na escola.
Chamou a atenção dos investigadores também o montante gasto com cartões de crédito vinculados à conta em nome de Cláudia, algo em torno de 841,7 mil dólares (3,1 milhões de reais).
Para os investigadores, tudo indica que os gastos do casal Cunha e Cláudia são bem maiores que os valores indicados nos extratos bancários do Julius Bär. Os dois cartões seriam exclusivos para determinados tipos de despesas fora do País.
Camuflagem
Na pista do dinheiro, os suíços descobriram como Cunha distribuiu o montante por suas outras contas. A Kopek, de Cláudia, recebeu 1,05 milhão de dólares da Triumph, de Cunha, entre 25 de março de 2008 e 17 de janeiro do ano passado. A Triumph recebeu recursos da Orion, que também fez pagamentos à Netherton. Para os investigadores, a movimentação entre as contas são indícios de tentativa de camuflar a origem e dificultar a identificação dos verdadeiros donos do dinheiro.
O relatório com a detalhada movimentação das contas secretas de Cunha chegou à Procuradoria-Geral da República na quarta-feira. O Ministério Público suíço decidiu transferir a investigação sobre corrupção e lavagem de dinheiro do presidente da Câmara para o Brasil. A partir de agora, caberá ao procurador-geral Rodrigo Janot decidir se pede abertura de inquérito ou oferece nova denúncia contra Cunha.
Em agosto, o presidente da Câmara foi denunciado ao STF (Supremo Tribunal Federal) por supostamente receber 5 milhões de dólares em propina para facilitar a contratação de dois navios-sondas da Samsung Heavy Industries pela Petrobras. O negócio de 1,2 bilhão de dólares teria garantido uma propina de 40 milhões de dólares para Cunha, para o ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor Cerveró e para o lobista Fernando Baiano.
Pela fraude, Cerveró e Baiano já foram condenados pelo juiz Sérgio Moro. Nas próximas semanas, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, deverá decidir se abre processo contra Cunha. Na denúncia, Janot pede que o presidente da Câmara devolva 80 milhões de dólares. O valor corresponde à propina e à multa pelas fraudes contra a Petrobras. (AG)