Além de evidentes crimes ambientais como garimpo ilegal, grilagem de terras e desmatamento, a região Amazônica também concentra mais de 50 rotas para o narcotráfico, contabilizando vias de acesso aéreo, terrestre, fluvial e marítimo. A presença de criminosos contribui para a escalada da violência na área de selva, evidenciada com o duplo homicídio cometido contra o jornalista inglês Dom Phillps e o indigenista Bruno Araújo Pereira.
A informação consta no estudo ‘Cartografias das violências na região Amazônica’, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em novembro do ano passado. A pesquisa mapeou todos os locais que servem como pontos de escoamento de entorpecentes como cocaína, maconha e skunk e conectam os territórios do Brasil, Peru, Colômbia e Bolívia.
O crime organizado é operado por facções do Amazonas, como a Família do Norte, mas também por grupos nacionais, em que se destacam o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Além das drogas, o tráfico de armas também é comum na região, com a presença também de grupos internacionais.
Há ao menos 10 grandes facções originadas em países da fronteira Amazônica que estabelecem atividades em meio à floresta declarada como patrimônio natural da humanidade pela Unesco. Para garantir a operação do tráfico, os bandidos utilizam de uma engenharia intensa que tem como ponto principal o rio Amazonas – o maior do mundo em volume de água e que possui extensão territorial a 6,9 mil quilômetros.
Pelo manancial, as cargas de cocaína, skunk e maconha são escoadas tanto para deixar o país, quanto para ingresso em território brasileiro. O rio Solimões, por exemplo, é a ponte com o Amazonas para integração com os rios Javari e Içá para liberação de entorpecentes que saem do Peru.
Outra rota utilizada junto ao Amazonas é via rio Purus, que atravessa o Acre e se conecta à Bolívia e Peru por meio da cidade de Assis Brasil em direção a Manaus. Exclusivamente para a Bolívia, o caminho traçado passa pelo rio Madeira e atravessa a Rondônia utilizando a cidade de Guajará Mirin. O trajeto é finalizado no rio Abunã, que dá acesso à capital boliviana La Paz.
Conforme o estudo, o rio Japurá é a rota que recebe drogas no Brasil pela fácil conexão com o Solimões e chegada a Manaus. Ainda no Amazonas, ocorre a conexão rio Uaupés, na Colômbia, até a faixa brasileira do rio Negro e o rio Branco, no Acre, passando pela cidade de Pacaraima até Manaus. “Ou seja, o Amazonas é a grande porta de entrada das drogas e a capital Manaus o grande centro distribuidor”, conclui o estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Nas vias terrestres, as rotas mais utilizadas passam por Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins. Na rodovia Cuiabá-Porto Velho se dá a ligação das redes que partem da Bolívia na região de fronteira com Rondônia e a integração de Mato Grosso com o oeste do Pará por meio da BR-163, trajeto que se integra à rodovia Transamazônica, rio Xingu e rio Amazonas, conectando a região de Altamira.
No caso dos caminhos aéreos, há caminhos clandestinos camuflados em meio à floresta, mas também são utilizadas pistas de pouso dos aeroportos das capitais, como Manaus e Belém.
Abandono
O coordenador geral da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Paulo Marubo, relatou que o sentimento na região, situada no município de Atalaia do Norte, é de abandono. “O que nós queremos agora é o que foi feito no protesto há dois dias atrás pedindo para as autoridades dar atenção à nossa região, porque moramos na tríplice fronteira (Peru, Colômbia e Brasil). É uma região completamente abandonada pelas autoridades, Forças Armadas, Exército e PF”, pleiteou o coordenador da Univaja.
Ele confirmou as análises da pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e indicou grande invasão de garimpeiros que atuam ilegalmente e sem nenhuma fiscalização, além da presença de traficantes. Por lá, as ameaças aos indígenas também são recorrentes. “Dizem que não tem nada, mas também tem pescadores ilegais, caçadores de animais selvagens e madeireiros que tiram madeiras do lado da Amazônia no Brasil e levam para o outro lado, no Peru, e dizem que foram tiradas lá”, acrescentou.