Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 11 de outubro de 2024
De 16 segmentos da indústria de transformação avaliados pela pesquisa Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getulio Vargas (FGV), seis estavam em forte alta em setembro, ou seja, o uso da capacidade das fábricas superava a média da indústria como um todo e a maioria deles estava com estoques enxutos. Nesse grupo estão os fabricantes de alimentos, vestuário, celulose e papelão, derivados de petróleo, metalurgia e têxtil.
O ritmo acelerado de produção é um desafio enfrentado hoje por quase todos os segmentos da indústria e é fruto do aumento do emprego e da renda, segundo Stéfano Pacini, economista do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV e responsável pela sondagem sobre a capacidade da indústria nacional.
No trimestre encerrado em agosto, havia 102,517 milhões de pessoas trabalhando no País, um número recorde, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A massa de salários em circulação na economia alcançou um novo ápice: R$ 326,205 bilhões no trimestre encerrado em agosto, um avanço de 8,3%, descontada inflação, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
Para analistas, esse aumento da renda tem muito a ver com a política do crescimento real do salário mínimo acima da inflação. Além disso, a antecipação do pagamento de precatórios, no início do ano, também injetou mais dinheiro na economia, elevando o consumo.
Com mais dinheiro no bolso, o brasileiro passou a comprar neste ano uma quantidade maior de comida, bebida e roupa. Esses itens, por sua vez, necessitam de um volume maior de embalagens para chegar ao consumidor e também puxam a demanda de insumos intermediários usados na sua produção.
O aquecimento gradual do consumo de bens diretamente ligados ao aumento da renda, isto é, aqueles cuja compra não depende do crédito e da taxa de juros, bateu na indústria desde o final do terceiro trimestre do ano passado, observa Pacini. Num primeiro momento, o crescimento da demanda foi atendido pela sobra de estoques. “Mas, nos últimos meses, as fábricas estão ligando as máquinas e acelerando a produção”, diz o economista.
Comida em alta
Líder na produção de peixes enlatados, a multinacional espanhola Nauterra, dona da marca Gomes da Costa no Brasil, por exemplo, confirma o forte aquecimento da produção nas duas fábricas, uma de pescados e outra de embalagens em Itajaí (SC). Nos últimos meses, a companhia chegou a usar até 90% das instalações para atender ao avanço da demanda.
De janeiro a julho, os volumes de sardinha produzidos cresceram 20% em relação ao mesmo período do ano passado. No atum, a alta foi de 10%. “Estamos voltando ao patamar pré-pandemia”, afirma o CEO da empresa para América Latina, Martín Barbaresi.
O ritmo de crescimento mais acelerado do Produto Interno Bruto (PIB) e, consequentemente, do consumo de alimentos fez a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) rever para cima as projeções para este ano.
Em fevereiro, a expectativa para 2024 era de um aumento das vendas reais de 2% a 2,5%. “Com a diminuição do desemprego para uma taxa de 6,6% e o ritmo forte das exportações, é provável que as vendas registrem crescimento acima de 3%”, prevê João Dornellas, presidente executivo da Abia, em nota. Em agosto, segundo a entidade, as fábricas de alimentos usavam 81,9% da capacidade de produção. A sondagem da FGV aponta que esse índice tinha subido para 85,3% no mês passado.