Sábado, 16 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 16 de novembro de 2024
Vinicius foi executado com dez tiros por dois homens não identificados e encapuzados.
Foto: DivulgaçãoAntônio Vinícius Gritzbach, o delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) assassinado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, contou à polícia que passou 21 dias sem sair de casa, junto com a família, com medo de ser morto por integrantes da facção criminosa.
Vinicius foi executado com dez tiros por dois homens não identificados e encapuzados. Eles carregavam fuzis e atacaram o empresário na área de desembarque do Terminal 2. O crime ocorreu na sexta-feira (8) e foi gravado por câmeras de monitoramento. Até o momento, nenhum dos assassinos havia sido identificado ou preso.
Nos autos, em um dos pedidos de soltura de Gritzbach, então preso preventivamente por supostamente mandar matar outros dois integrantes do Primeiro Comando da Capital, a defesa argumenta que ele havia ficado “enclausurado em seu apartamento durante 21 dias, temendo por sua vida e de seus familiares”, porque “a todo o momento recebe informações que sua morte está decretada pelo PCC”. Isso foi em 2022.
A família passou a “ser ameaçada de morte, e por conta disso encontram-se aquartelados no seu apartamento, não podendo saírem [sic] sequer para fazer compras de alimentos e as crianças irem à escola”. Gritzbach era acusado de mandar matar Anselmo Becheli Santa, conhecido como Cara Preta, e Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, no Tatuapé, na Zona Leste da capital, em 2021. O primeiro era um integrante influente do PCC, envolvido com o tráfico internacional de drogas, já o segundo era seu motorista e braço direito.
O empresário teria mandado matar Cara Preta porque havia supostamente recebido dele quase R$ 200 milhões para investir em criptomoedas, mas teria desviado o dinheiro, e o golpe acabou sendo descoberto. Uma das testemunhas protegidas ouvidas pela polícia relatou como o esquema funcionava. Segundo ela, Gritzbach operava a compra e venda de imóveis para Cara Preta no esquema de lavagem de dinheiro do PCC. Até que o empresário sugeriu a Cara Preta que ele deveria investir em criptomoedas, e os dois dividiriam os lucros. O integrante do PCC entraria com o dinheiro, e Gritzbach, com o nome dele e a operação do negócio.
O empresário então teria começado a mostrar tabelas com lucros extraordinários, e Cara Preta chegou a investir cerca de R$ 180 milhões em diversas moedas virtuais. Mas os lucros, de fato, da carteira, não eram compartilhados. Até que outras pessoas próximas a Cara Preta começaram a alertá-lo de que talvez não houvesse os ativos.
Ele pediu prazos para devolver os valores, mas não os cumpriu. Isso porque ele estaria usando o dinheiro para comprar imóveis, carros, helicópteros, jet skis, etc. A desconfiança de que o dinheiro não seria devolvido teria gerado uma briga entre os dois e motivado a decisão de Gritzbach de mandar matar Cara Preta.
Nos autos do inquérito, a defesa de Gritzbach nega essa versão e afirma que ele apenas intermediava a compra e venda de imóveis. Também relata que, logo após os assassinatos, no fim de 2021, o empresário passou a receber diversas ameaças.
A primeira, em janeiro de 2022, foi quando ele recebeu uma mensagem de uma pessoa conhecida como “Cigarreiro”, solicitando um encontro para “conversar”. Ele teria ido até o local sozinho, no Tatuapé. Quando chegou lá, além do homem que o havia chamado, foram chegando outros, todos supostamente ligados ao PCC, que formavam o chamado “tribunal do crime”: “Tripa”, “Japonês”, “Didi”, “Pescador”, “Django” e “Nega”.
Gritzbach foi mantido sob o poder da facção, sendo pressionado e ameaçado de morte, por 9 horas –das 10h30 às 19h30. Segundo ele, um dos homens, o “Tripa”, chegou a colocar luvas cirúrgicas pretas e dizia que iria esquartejar o empresário.
Em seus depoimentos, o delator do PCC afirma que conhecia essas pessoas como sendo empresários de jogadores de futebol, contraventores do ramo do jogo de bicho e donos de lojas de alimentos, já que ele negava ser parte da facção criminosa.
No dia seguinte, outros três integrantes da facção teriam ido até a casa de Gritzbach levando dois celulares e 12 palavras que formavam uma senha, que seriam de Cara Preta, já que não sabiam operacionalizar o resgate dos valores em criptomoedas. Com a ajuda do empresário, conseguiram recuperar cerca de R$ 27 milhões.
No mês seguinte, em fevereiro, outras duas pessoas também supostamente da facção (“Japonês” e Robson) teriam invadido a imobiliária de Gritzbach, levando documentos, contratos, cheques, dinheiro e arquivos digitais. Um dos funcionários da empresa contou ter visto uma arma em cima da mesa do empresário e que ela teria desaparecido após a ida de “Japonês” e Robson ao escritório.
O homem acusado de ser o executor do crime, Noé Alves Schaum, foi assassinado em 2022, também no Tatuapé. Já o empresário havia sido preso provisoriamente e foi solto após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Em julho, a Justiça de São Paulo decidiu levar Gritzbach e o agente penitenciário David Moreira da Silva a júri popular pelos assassinatos. O agente nega que tenha ordenado as mortes, contratado por Gritzbach.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) criou uma força-tarefa que investiga três principais hipóteses para tentar esclarecer a execução de Gritzbach, que era empresário do ramo imobiliário. O empresário e a namorada estavam voltando de uma viagem de Maceió, em Alagoas, para São Paulo. A companheira não foi atingida pelos disparos e não é investigada.
O Ministério Público (MP) acompanha as apurações. A Polícia Federal (PF) faz sua investigação própria do caso porque o ataque ocorreu no aeroporto que é responsabilidade da instituição. A Guarda Civil Municipal (GCM) de Guarulhos apura por qual motivo seus agentes não estavam no local no momento da execução.