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Com novo aumento da Selic, entenda os efeitos do “choque de juros” no crédito e na vida do consumidor

O Comitê de Política Monetária (Copom) cumpriu a promessa feita em sua última reunião de 2024 e voltou a elevar a Selic em 1 ponto percentual. (Foto: Marcos Santos/USP Imagens)

Especialistas ouvidos pelo portal de notícias G1 afirmam que a inflação persistente e a incerteza com as contas públicas são os principais fatores internos que continuam a pressionar o Banco Central (BC) a manter a taxa básica de juros em trajetória de alta, o que encarece o dia a dia dos consumidores brasileiros.

O Comitê de Política Monetária (Copom) cumpriu a promessa feita em sua última reunião de 2024 e voltou a elevar a Selic em 1 ponto percentual (p.p.) nessa quarta-feira (29), para 13,25% ao ano.

A instituição indicou que a média dos preços deve continuar acima da meta de inflação de 3% neste e nos próximos anos. De acordo com as últimas divulgações do IPCA, a inflação oficial tem sido impulsionada principalmente pelo alto preço dos alimentos e dos combustíveis.

Um elemento extra de incerteza é a chegada de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos. Com políticas protecionistas, que também prejudicam a inflação americana, espera-se que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) tenha dificuldade de baixar os juros por lá.

Juros elevados nos EUA aumentam o rendimento das Treasuries, os títulos públicos americanos, atraindo investidores estrangeiros e fortalecendo a moeda americana. Um dólar mais forte prejudica o câmbio e pressiona a inflação no Brasil.

O Fed, por sua vez, também realizou sua primeira decisão de juros da era Trump nesta quarta-feira, e resolveu interromper uma sequência de três quedas, mantendo as taxas na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano.

A instituição reafirmou que a perspectiva econômica é “incerta”, que está atenta aos riscos econômicos e que está “preparada para ajustar” sua postura na condução dos juros.

Essa conjunção de eventos faz com que economistas do mercado prevejam uma forte puxada na taxa básica da economia nos próximos meses, e que o juro atinja 15% ao ano em junho de 2025, maior patamar desde 2006. Além de frear a economia como um todo, taxas mais altas encarecem financiamentos.

– Por que os juros subiram tanto? Um dos principais pontos levantados tanto pelo BC brasileiro quanto pelo Fed é a dúvida sobre a continuidade da pressão inflacionária nas economias de ambos os países.

“Há uma série de incertezas olhando à frente. A primeira é a taxa de câmbio, que é uma das variáveis-chave para o comportamento da inflação. E a segunda é o comportamento da atividade econômica”, explica o estrategista-chefe da Warren Rena, Sergio Goldenstein.

Nos EUA, apesar de sinais de desaceleração econômica, ainda há dúvidas sobre a intensidade dos efeitos da agenda protecionista de Trump. Medidas econômicas, como a criação de tarifas para produtos importados e a deportação de estrangeiros, têm caráter inflacionário e devem causar impactos nos preços ao consumidor.

Em seu comunicado, o Fed indicou que seu balanço de riscos está mais equilibrado nos últimos meses, mas a instituição deve ser mais cautelosa com novos cortes de juros até que se tenha mais clareza de que não perderá o controle da inflação.

“O comunicado […] deixou claro que o comitê seguirá firme na missão de levar a inflação ao centro da meta, monitorando indicadores estritamente ligados ao ambiente macroeconômico […] e excluindo qualquer possibilidade de que fatores políticos adentrassem a agenda da instituição”, afirma o economista da CM Capital, Matheus Pizzani, em nota.

– Como os juros afetam o dia a dia do brasileiro? O principal efeito dos juros na vida do consumidor ocorre no crédito. Primeiro, porque os bancos acompanham a alta da Selic e repassam esse custo aos consumidores, encarecendo empréstimos e financiamentos.

Em segundo lugar, há um menor volume de crédito disponível no mercado. Com as incertezas e sinais de desaceleração da atividade econômica, além da alta das expectativas de inflação, os bancos ficam menos propensos a emprestar.

Esse cenário também afeta aqueles que já têm créditos contratados com juros pós-fixados, o que pode diminuir a capacidade de pagamento e aumentar a inadimplência.

Por fim, a alta dos juros também impacta o poder de compra das famílias, que, com menos recursos disponíveis, limitam seus gastos às contas básicas da casa e postergam a compra de bens. As informações são do portal de notícias G1.

 

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