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Com o fracasso do PT nas urnas, o governo Lula mira eventual reforma ministerial para obter mais apoios à reeleição; o PL de Bolsonaro já fala em ter aliados além da direita

PL fala em buscar campo além da direita, enquanto governo federal condiciona reforma ministerial a apoio à reeleição do presidente. (Fotos: Rovena Rosa/Tomaz Silva/Agência Brasil)

O resultado das eleições municipais, com o fortalecimento do centro, intensificou no PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no PL de Jair Bolsonaro o processo de busca pelos partidos que saíram vencedores das urnas, já com 2026 no horizonte. Figuras-chave dos dois partidos reconheceram ontem a importância de atrair siglas consideradas “fiéis da balança” no jogo nacional.

No governo Lula, fala-se até em contemplar na futura reforma ministerial, a ser promovida no começo do próximo ano, o resultado das eleições. O discurso no Palácio do Planalto é de que a nova configuração da Esplanada precisa ter como principal objetivo a construção do palanque para a reeleição do presidente. Já o comandante nacional do PL, Valdemar Costa Neto, disse que vai “trabalhar” para cooptar os partidos de centro.

“Vou trabalhar para isso. Temos muita gente em outros partidos que defende as nossas pautas. É isso que nós precisamos trabalhar, ter um caminho para isso”, disse à GloboNews.

Em entrevista ao jornal O Globo, em meados do mês, o dirigente defendeu um diálogo com o centro para “ganhar em 2026”, mas assumiu que Bolsonaro dificulta algumas conversas.

Pelo PT, quem reconheceu a importância dos partidos aliados foi o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta. Ele celebrou o que considera a derrota da extrema direita nas eleições municipais e pintou um cenário positivo por causa do desempenho de siglas que integram o governo.

“Um partido que é governo não pode só pensar em uma estratégia de votos nominais do partido. Todas as vitórias de nomes que não são petistas são estratégicas e fundamentais para o governo”, afirmou.

As eleições deste ano tiveram como principal vitorioso um centro que pode pender mais ou menos para um dos lados do jogo político nacional, a depender das dinâmicas de cada cidade. Maiores exemplos disso são PSD e MDB, os dois campeões de prefeituras – que, além da capilaridade, foram bem-sucedidos nas principais capitais e saíram das urnas como ativos a serem cortejados por quem tem ambições nacionais.

A variação de posicionamento desses partidos em cada região tende a ser um empecilho para eles abraçarem com afinco uma candidatura presidencial. Em 2022, por exemplo, o PSD optou pela neutralidade, e cada diretório local seguiu o caminho que achou melhor. Já o MDB lançou a candidatura própria de Simone Tebet, que saiu fortalecida do primeiro turno, e apoiou Lula no segundo.

Troca

Segundo um ministro com assento no Palácio do Planalto, qualquer aumento de espaço das siglas no governo será condicionado a um compromisso com a reeleição de Lula. Enquanto isso, ministros de partidos aliados pontuam que o crescimento do centro nas eleições deve ser levado em conta na equação.

O modelo exato de reformulação, no entanto, não é consenso no governo. Aliados de Lula fora do PT defendem que a mudança na Esplanada sinalize de forma clara a intenção do presidente de ter na disputa daqui a dois anos um arco amplo de alianças, com forças de centro e centro-direita. Esse grupo reivindica inclusive a abertura de espaço para outras legendas nas pastas do próprio Planalto, com acesso privilegiado a Lula. O objetivo central, de acordo com essa visão, é isolar a extrema direita.

A reforma ministerial teria, segundo integrantes de partidos aliados, que ser feita após as eleições das presidências da Câmara e do Senado, na primeira semana de fevereiro. Depois da definição dos novos comandantes das duas Casas, Lula deveria consultar as bancadas para saber se estão se sentindo representadas pelos atuais titulares de pastas que são de seus partidos.

Um ministro de uma dessas siglas destaca que o principal recado que ficou da eleição foi o fortalecimento do centro político, e que isso precisa ser levado em conta. No núcleo central do governo, no entanto, o entendimento é que os resultados das disputas municipais não devem ser usados como critério.

O PSD, à frente de três pastas, foi o partido que mais conquistou prefeituras: 887. Mas auxiliares de Lula avaliam que uma expansão do espaço da sigla só se justificaria se Gilberto Kassab, presidente da legenda, embarcasse já no projeto de reeleição do petista, o que é improvável. Secretário na gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos), Kassab não deve anunciar a posição na disputa antes de o governador paulista decidir se concorrerá ao Planalto ou à reeleição.

Segundo partido com maior número de prefeitos eleitos (853), o MDB, também com três ministérios, não pretende, segundo caciques, reivindicar aumento de espaço no governo. Para uma liderança da sigla, está muito cedo para decidir a posição na eleição. Um dos representantes do partido, o ministro dos Transportes, Renan Filho, aposta que a reforma vai acontecer:

“Acho muito natural que, em meio à construção das eleições das presidências da Câmara e do Senado, o presidente aproveite para fazer uma revisão geral no sentido de fortalecer a governabilidade e a aliança para o processo eleitoral.”

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