Na semana passada, as definições de “smartphone caro” foram atualizadas: ao lançar o novo iPhone X, modelo comemorativo de 10 anos da linha, a Apple alcançou um patamar nunca antes visto na indústria de tecnologia, ao cobrar 1 mil dólares por um celular. A sul-coreana Samsung, principal rival da empresa do iPhone neste mercado, já havia flertado com esse nível ao fixar o valor do Galaxy Note 8, seu mais recente modelo de alto padrão, em 930 dólares nos Estados Unidos.
Juntos, esses dois dispositivos parecem abrir caminho para uma nova categoria no mercado, a “super premium”, com smartphones que podem chegar às lojas do Brasil em torno de 5 mil reais. Para analistas ouvidos pela reportagem do jornal o Estado de S. Paulo, esta nova categoria vai além de só exibir recursos cada vez mais robustos e, de certa forma, quer cativar os amantes do luxo.
Há espaço para isso. Mesmo no Brasil, onde pagar o equivalente a 1 mil dólares por um smartphone não é algo exatamente novo. Desde 2010, quando o iPhone 4 chegou às lojas do País por R$ 1,7 mil – e o dólar na época era negociado na casa de 1,70 real –, tem sido assim.
Além disso, mesmo em tempos de crise o mercado de smartphones premium – acima de 3 mil reais – tem crescido no País. Segundo dados da consultoria IDC Brasil, o segmento chegou a 600 mil unidades no segundo trimestre de 2017, com alta de 41% em relação ao mesmo período de 2016. Para Leonardo Munin, analista da IDC, o brasileiro tem percebido, cada vez mais, a importância de um bom smartphone na sua vida. “O consumidor passa o dia todo ligado ao seu celular, é o principal dispositivo dele”, diz.
Ainda de acordo com a consultoria, de cada 100 dólares gastos com dispositivos de tecnologia (celulares, tablets e PCs) no Brasil, 77 dólares são consumidos em smartphones – em 2010, a liderança era dos PCs, com 50 dólares para cada 100 dólares. “Ao comprar um novo dispositivo, o usuário sempre aceita pagar mais caro por um modelo melhor”, diz o analista, acrescentando que aspectos como design e status fazem diferença.
“O iPhone X e o Galaxy Note 8 vão aumentar a barra de preços, permitindo que outros fabricantes também explorem essa faixa”, avalia Tuong Nguyen, analista da consultoria Gartner. “Ao estabelecer a marca de 1 mil dólares, a Apple mostra que tem o poder de atrair consumidores de luxo, diferenciando-os de quem compra um iPhone 8, vendido a 699 dólares.”
Um aspecto que chama a atenção, no entanto, é a relação entre preços e a quantidade de inovações oferecidas. Em vez de recursos disruptivos, como traziam nas primeiras gerações, agora os aparelhos ganham inovações incrementais, que melhoram a experiência, mas não são revoluções.
O Galaxy Note 8 tem recursos muito parecidos com os do Galaxy S8, apresentado pela Samsung no início deste ano. No caso do iPhone X, o sistema de reconhecimento facial e a tela quase sem bordas já apareceram em concorrentes.
Se decepcionam em “grandes novidades”, os smartphones “super premium” não deixam a desejar em melhorias no processamento, memória RAM e armazenamento. “É uma evolução que não inova, mas que faz diferença em como o consumidor sente o celular”, explica Munin, da IDC Brasil. “É preciso investir num hardware robusto que seja capaz de processar o vídeo, o game ou a foto.” (O Estado de S. Paulo)