Para o infectolgista Alberto Chebabo, professor da UFRJ e médico do Sérgio Franco Medicina Diagnóstica, por ora não é preciso procurar o sistema de saúde por sintomas comuns de gripe — a não ser que o paciente tenha viajado para lugar com surto de coronavírus ou tenha tido contato com alguém que viajou para estes países.

O uso de máscaras como forma de se proteger do vírus também é desaconselhado, segundo o médico.

“Não há evidência científica de que o uso indiscriminado funcione. Pelo contrário, as pessoas não sabem usar. A máscara tem período de proteção, de duas a quatro horas, depois fica úmida e perde a capacidade de barreira”, afirma Chebabo. “As pessoas também não cobrem o rosto todo, deixam o nariz de fora, tocam a máscara com a mão. Ela dá uma falsa sensação de proteção e pode, então, aumentar o risco.”

O infectologista Celso Granato, diretor Clínico do Grupo Fleury, reforça a recomendação:

“A proteção que a máscara dá para quem não tem a doença não é considerada boa. A pessoa doente é quem deve usar máscara, porque vai segurar as gotículas que levam o vírus”, diz Granato.

Chebabo diz que o perigo da doença precisa ser dimensionado em relação à gripe comum.

“Há diferenças e similaridades: é uma doença respiratória como a gripe e tem evolução semelhante em termos de óbitos. É um quadro em que a maioria das pessoas vai ter sintomas de forma branda, sem necessidade de internação. A letalidade é maior em quem tem alguma comorbidade, como acontece com a gripe, que mata um número enorme de pessoas todos os anos.”

Ele aponta que outra diferença do coronavírus para vírus que causam gripe é que aquele ainda não tem vacina nem tratamento.

“Não conhecemos bem o vírus para saber se vai sofrer alguma mutação e evoluir para algo mais grave.”

Cuidados desde já

Os especialistas afirmam que alguns cuidados devem ser adotados pelas pessoas desde já, não só como forma de evitar a propagação do coronavírus mas também de outros vírus, como o influenza, por exemplo.

Lavar as mãos com água e sabão é sempre recomendado. Também se pode usar álcool gel — muito eficaz para higienização de mãos — de forma abundante, especialmente após situações em que pode haver contágio, como ao usar transporte público e antes de fazer as refeições.

Outro cuidado é evitar colocar a mão na boca, olho ou nariz, porque ela sempre pode estar infectada.

Uma recomendação importante é, assim que possível, se vacinar contra a gripe.

“As pessoas devem se vacinar, especialmente idosas ou com doença de base, até para ajudar o sistema de saúde. Assim, quem tiver coronavírus vai ter mais espaço”, afirma Granato.

Ele afirma que atualmente há um número muito grande de casos de gripe causada pelos vírus influenza A e B, “o que não acontece normalmente”.

Evitar aglomerações e lavar sempre as mãos são cuidados que devem ser adotados para evitar gripes, “que também são mais graves na vovó de 90 anos”. Por tabela, protegem contra o coronavírus.

Antecipação da vacina

O Ministério da Saúde vai antecipar a campanha de vacinação contra gripe para 23 de março por causa do coronavírus. O Brasil teve o primeiro caso da doença anunciado oficialmente pelo governo federal na última quarta-feira (26).

O ministro afirmou que se a pessoa for vacinada, fica mais fácil para profissionais de saúde diagnosticarem o tipo de vírus que um paciente eventualmente possa ter contraído. “Se a pessoa avisa que foi vacina [contra a gripe], auxilia no raciocínio profissional, para [o médico] pensar em outros vírus.”

Multiplicação de casos

Chebabo diz que, se o País chegar a um número grande de infecções confirmadas (“O governo falou em 100”, diz), pode haver alteração na estratégia de acompanhamento dos casos suspeitos.

Neste cenário, quem estiver com sintomas de gripe intensa, com febre mais alta, tosse, dor muscular, deve procurar um posto de saúde. Lá, a pessoa será examinada e pode fazer exames para gripe.

O teste para coronavírus vai ser feito sempre respeitando critérios epidemiológicos, como saber se a pessoa esteve em algum país com número expressivo de casos ou com alguém que viajou.

“Se a gente passar a ter uma epidemia de grande proporção, vamos ter que evitar aglomerações, principalmente de locais fechados. A Itália, por exemplo, cancelou concertos e adotou jogos de futebol sem torcida”, afirma Chebabo.