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Com a presença de Bolsonaro, Congresso promulga emenda que permite pacote social pré-eleitoral

Projeto aprovado pelo Congresso e sancionado por Bolsonaro dá aval para o governo federal redirecionar recursos a municípios e pode beneficiar redutos eleitorais de aliados. (Foto: Reprodução)

O Congresso Nacional promulgou nesta quinta-feira (14) a emenda constitucional que autoriza um “estado de emergência” no País. A medida é uma forma de contornar a legislação e, assim, permitir ao governo a criação de uma série de benefícios às vésperas das eleições.

A emenda constitucional foi aprovada pelo Senado em junho e pela Câmara dos Deputados nesta semana.

A promulgação do texto foi feita em sessão solene do Congresso com as presenças dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); e parlamentares.

Em um ato incomum, o presidente Jair Bolsonaro, que vê na emenda a possibilidade de melhorar o desempenho nas pesquisas eleitorais, também compareceu ao Congresso para participar da promulgação – etapa necessária para a entrada em vigor do texto.

Também compareceram à sessão o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, e os ministros de estado: Adolfo Sachsida (Ministério de Minas e Energia do Brasil), Bruno Bianco (Advocacia-geral da União), José Carlos Oliveira (Trabalho e Previdência), Ciro Nogueira (Casa Civil), Augusto Heleno (Segurança Institucional) e Célio Faria (Secretaria de Governo).

Pacote social

Entre outros pontos, a emenda aumenta o valor do Auxílio Brasil, amplia o Vale-Gás e cria um “voucher” para caminhoneiros e para taxistas (veja mais abaixo).

De acordo com o texto, todos os benefícios acabam em dezembro, segundo mês após a eleição.

O governo prevê começar os pagamentos em 9 de agosto. No entanto, segundo o Ministério da Economia, quatro dos sete benefícios previstos na emenda dependem de uma futura regulamentação, entre eles, os destinados a caminhoneiros e taxistas.

Já as ampliações do Auxílio Brasil e do Vale-Gás dependem somente da edição de medidas provisórias (MPs) para valerem.

Manobras

A aprovação da PEC no Congresso, em especial na Câmara dos Deputados, ocorreu em um rito expresso.

O presidente da Câmara e apoiador de Jair Bolsonaro, Arthur Lira lançou mão de manobras regimentais e mudou regras para assegurar a presença de deputados na votação, entre elas, permitiu o registro remoto e que parlamentares em licença médica pudessem votar.

Lira também associou a PEC do pacote social à PEC dos biocombustíveis, que já estava em tramitação. Com isso, a PEC “Kamikaze” não precisou passar, por exemplo, pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara, responsável por examinar a constitucionalidade de todas as matérias a serem votados pelo plenário. Por isso, a manobra também abreviou o tempo de tramitação da proposta.

A PEC dos biocombustíveis incorpora na Constituição um dispositivo que garante uma diferença tributária entre combustíveis fósseis, como a gasolina, e os biocombustíveis, como o etanol.

Votos da oposição

Embora contrários ao artifício que autoriza o governo a decretar “estado de emergência” no País a fim de criar e pagar os benefícios a menos de três meses da eleição – o que em condições normais, a legislação proíbe – parlamentares de oposição votaram a favor da PEC.

Segundo os deputados, é necessário dar assistência à parcela mais pobre da população, atingida pela crise econômica que fez o Brasil voltar ao Mapa da Fome das Nações Unidas.

O que define a emenda

A emenda estabelece estado de emergência em 2022, em razão da “elevação extraordinária e imprevisível dos preços do petróleo, combustíveis e seus derivados e dos impactos sociais deles decorrentes”.

O texto abre caminho para uma série de benefícios. Veja abaixo:

Gasto adicional

Apelidada de “PEC Kamikaze” pelo ministro da Economia, Paulo Guedes ª quando o governo ainda não cogitava patrocinar a medida–, a proposta prevê um gasto adicional de R$ 41,2 bilhões não previsto no Orçamento federal.

Nesta quinta-feira (14), Guedes disse que a chamada “PEC Kamikaze” é, na verdade, a “PEC das Bondades”.

Piso para profissionais de enfermagem

Também na sessão desta quinta (14), o Congresso promulgou a emenda constitucional que viabiliza a fixação de um piso nacional para a remuneração de enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e parteiras.

A emenda inclui na Constituição a previsão de que uma lei federal irá instituir os pisos salariais para enfermeiro, técnico de enfermagem, auxiliar de enfermagem e parteira.

O projeto que cria a lei federal mencionada já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, mas não chegou a ser enviado à sanção presidencial. Isso porque os parlamentares avaliaram que a previsão deveria ser incluída na Constituição, para tentar evitar ações judiciais que poderiam suspender o piso. Para isso, entendem os congressistas, era preciso promulgar a emenda antes.

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