Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de maio de 2021
Além da Covid, a Índia enfrenta surto de fungo potencialmente fatal.
Foto: ReproduçãoAlém da pandemia de Covid-19, que já deixou quase 300 mil mortos no país, a Índia enfrenta um surto de um fungo potencialmente fatal e problemas na produção de vacinas.
Até este domingo (23), o país registrava 299.266 mortes pela Covid-19, segundo dados do Ministério da Saúde. Dessas, 3.741 ocorreram nas últimas 24 horas. Dos 26 milhões de casos da doença vistos desde o início da pandemia, quase metade foi registrado nos últimos dois meses. Mesmo assim, ainda há subnotificação de casos.
E os que se recuperam do vírus têm enfrentado uma segunda infecção: a mucormicose. Relativamente rara, a doença, causada por um fungo conhecido como “fungo preto”, já existia na Índia antes da pandemia, mas tem aparecido de forma mais frequente entre os que se curam do coronavírus.
A mucormicose é causada pela exposição a fungos do gênero Mucor, comumente encontrados no solo, no ar e até mesmo no nariz e no muco de humanos. Ele se espalha pelo trato respiratório e corrói as estruturas faciais. Às vezes, os médicos precisam remover cirurgicamente o olho para impedir que a infecção chegue ao cérebro.Tem uma alta taxa de mortalidade, mas não é contagiosa.
No sábado (22), o ministro de químicos e fertilizantes da Índia, Sadananda Gowda, disse que quase 9 mil casos da doença foram registrados no país até agora – o que levou a uma falta de anfotericina B, medicamento usado para tratar o problema.
Gowda não informou o número de mortes, mas a mídia local relata mais de 250 mortes por causa da doença.
“Antes eu costumava encontrar apenas alguns casos por ano, mas a taxa de infecção atual é assustadora. É um novo desafio e as coisas parecem sombrias”, declarou à agência de notícias Ambrish Mithal, presidente e chefe do departamento de endocrinologia e diabetes da Max Healthcare, uma rede de hospitais privados na Índia.
Mithal explicou que a infecção atinge pacientes com sistema imunológico enfraquecido e condições preexistentes, principalmente diabetes e com uso inadequado de esteroides. Níveis descontrolados de açúcar no sangue podem colocar pessoas com problemas imunológicos em um risco maior de contrair a doença.
Alguns corticoesteroides, como a dexametasona e a hidrocortisona, são usados no tratamento de Covid grave, mas não são recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para casos leves – porque inibem a ação do sistema imune. A própria dexametasona pode piorar quadros de diabetes.
Especialistas em saúde se preocupam com o fato de que a venda livre de medicamentos, inclusive dos esteroides, pode aumentar a prevalência da mucormicose.
O Ministério da Saúde pediu aos estados que rastreiem a propagação da doença e a declarem uma epidemia, tornando obrigatório que todas os centros médicos informem casos a uma rede de vigilância federal.
Produção de vacinas
A Índia é o maior fabricante mundial de vacinas e tem dois principais produtores de vacinas contra a Covid-19: o Instituto Serum, na cidade de Pune, que está produzindo a vacina de Oxford/AstraZeneca – inclusive exportando para o Brasil – e a Bharat Biotech, em Hyderabad, que está produzindo sua própria vacina – a Covaxin, cujos testes no Brasil foram autorizados pela Anvisa há dez dias.
O país autorizou que as empresas começassem a produzir as doses no ano passado, enquanto aguardavam aprovação formal dos reguladores. Tanto o governo quanto as empresas pensaram que, quando as vacinas fossem aprovadas, eles teriam estoques maiores do que de fato tinham. Aumentar a produção tornou-se um problema para ambas as empresas.
Com a Índia registrando centenas de milhares de novas infecções a cada dia, o governo abriu, em 1º de maio, a vacinação para todos os adultos. Isso causou um aumento na demanda que revelou a extensão da escassez. No ano passado, o plano era vacinar 300 milhões dos quase 1,4 bilhão de indianos até agosto. Mas, na verdade, o país não tinha nem perto da quantidade de doses suficientes para isso.