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Com quase 8 mil km, trilha ecológica do Oiapoque ao Chuí cortará 13 Estados até chegar ao Rio Grande do Sul

Caminho percorrerá 300 cidades e 25% do roteiro já está formatado. (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Aos poucos um desenho começa a surgir, locais separados no mapa que vão se unindo para formar o maior caminho do País. Do ponto mais extremo ao Norte, no Amapá, ao mais distante ao Sul, no Rio Grande do Sul, serão 7.882,94 km, serpenteando pela maioria dos biomas brasileiros, 14 Estados, quase 300 cidades litorâneas, como o Rio de Janeiro, e um sem número Brasil adentro, a capital paulista entre elas.

A Trilha Oiapoque-Chuí, um enorme corredor ecológico, já tem cara e sinalização próprias e será maior que algumas das mais extensas do mundo, como a Pacific Crest Trail – que liga uma região perto da fronteira do México ao Canadá, cruzando todo o Oeste dos Estados Unidos, em 4.260 km.

Só a primeira delas, ou a última (a depender de onde se parta), a Trilha Cassino-Barra do Chuí tem 223 km, que podem ser percorridos a pé, de bicicleta ou a cavalo numa jornada de seis a nove dias. Mas não é só. Integram o projeto até trilhas fluviais para serem feitas de caiaque ou canoa.

A iniciativa é coordenada pelo governo federal, por meio do Ministério do Meio Ambiente, com a participação do Ministério do Turismo e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A concretização da Oiapoque-Chuí, porém, fica a cargo das entidades e pessoas ligadas às trilhas locais já existentes. Aos poucos, elas vão se juntando, adotando a sinalização padronizada e passando a fazer parte da Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade (RedeTrilhas).

Roteiro

A ideia de ser construída “de baixo para cima”, diz Pedro da Cunha e Menezes, diretor de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, fundador da Trilha Transcarioca e diretor da Rede Trilhas, é de que isso gere pertencimento das comunidades ao projeto, além de ser uma forma de incentivo à economia turística nos locais com o fomento a pousadas, hotéis e o trabalho de guias. Ao fim de cada trecho, um certificado deve ser emitido aos caminhantes.

Não há prazo estipulado para a conclusão, mas hoje cerca de 25% da formação está implementada. “A trilha é o resultado de diferentes trilhas que têm vida própria e tende a ser um símbolo nacional, gerar emprego e renda para as comunidades. É um processo lento, pensado dessa forma mesmo, de baixo para cima”, diz.

A sinalização padrão também já está espalhada em boa parte dessas trilhas, uma pegada preta sobre um fundo amarelo ou o contrário, conforme o sentido em que o caminho é percorrido. É o caso, por exemplo, da Transcarioca, que cruza o Rio de Janeiro por um percurso de cerca de 180 km, da Barra de Guaratiba até o Morro da Urca, aos pés do Pão de Açúcar. Ao todo, a trilha conecta nove Unidades de Conservação (UCs), os Parques Estadual da Pedra Branca, Nacional da Tijuca, e os municipais de Grumari, da Cidade, da Catacumba, Fonte da Saudade, Jose Guilerme Merquior, da Paisagem Carioca e dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca.

A sinalização também está espalhada pelos 1.200 km, em 40 cidades, dos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, que formam a Trilha Transmantiqueira. Partindo do Horto Florestal (Parque Estadual Alberto Löfgren), o caminho conecta mais 30 Unidades de Conservação (UCs) passando por cidades como Campos do Jordão e São Francisco Xavier. Cortando a Serra da Mantiqueira de oeste a leste, a trilha também é formada por caminhos que se conectam para formar um trajeto maior, como a Trilha da Serra Fina e o Parque Nacional do Itatiaia.

Mata Atlântica

Grande parte da Oiapoque-Chuí estará inserida na Mata Atlântica, o bioma mais desmatado do Brasil, do qual restam apenas 12,4% de cobertura vegetal original. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 72% da população brasileira – 145 milhões de pessoas – vivem em áreas que se inserem na Mata Atlântica. As maiores cidades do País, como Rio, São Paulo, Salvador, Belo Horizonte e Curitiba são alguns dos exemplos. “Em alguns trechos, a trilha pode ter mais de um ramal. Mais importante do que o traçado é a qualidade do caminho”, diz o diretor de Áreas Protegidas do Ministério. “Não só as pessoas, mas a fauna também vai poder se mexer por esses caminhos.”

De acordo com Luciano Soares, diretor de Geotecnologia da Rede Brasileira de Trilhas, a Oiapoque-Chuí passará por 290 municípios à beira-mar. A entidade trabalha para fazer a catalogação e o mapa completo do caminho. “Se alguém quiser sair de onde for, vai poder dimensionar quanto irá andar por dia, onde vai dormir e se alimentar”, afirma.

Trilhas de longa distância são mais comuns em países como os Estados Unidos e o Canadá. Nesses dois, trilhas como a Appalachian Trail e a Trans Canada Trail se estendem por 7.500 km e 28.000 km, respectivamente.

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