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Com saída de líderes, negociação diplomática busca as metas reais da COP26

Nos próximos 10 dias, diplomatas precisam negociar para transformar em compromissos concretos as diretrizes deixadas por presidentes e primeiros-ministros na abertura do evento. (Foto: Reprodução)

Os primeiros dias da 26ª COP 26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) foram marcados pela presença de líderes e por alguns compromissos já assumidos, inclusive pelo Brasil (redução do desmatamento e de emissões de gases de efeito estufa).

Embora sejam sinalizações positivas (mesmo passíveis de críticas), o que já foi anunciado até aqui é considerado importante, mas não trata ainda das principais expectativas para o encontro.

A hora das discussões técnicas

Com a saída dos líderes, a primeira semana fica totalmente dedicada às mesas de negociação a um nível mais técnico, o que ainda não deve levar a grandes acordos.

“A COP começou, alguns chefes de Estado falaram e, agora, os negociadores sentam nas salinhas para ver as propostas, as concordâncias e as dissidências”, explica Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Apesar disso, Astrini, que está na Escócia, diz que os países mais ricos estão conversando nos bastidores sobre ampliar as ambições ano a ano: criar uma plataforma para que as metas sejam aumentadas a cada conferência climática.

Natalie Unterstell, presidente da Talanoa e membro do Painel de Acreditação do Green Climate Fund, também afirma que, nos próximos dias, a tendência é ver menos anúncios políticos e mais tratativas entre corpos diplomáticos.

“Coisas grandes, como o financiamento, como o crédito de carbono, devem ser acordadas na semana que vem. Estamos em fase de consultas o dia inteiro, as pessoas estão discutindo as vírgulas”, explica Natalie.

Do lado de fora, no final de semana, estão previstos alguns protestos: o movimento Fridays for Future, em que participa a ativista Greta Thunberg, marcou uma passeada para a sexta-feira (05). Já a Marcha pelo Clima, uma grande manifestação que reúne todos as ativistas e movimentos pelo meio ambiente, está prevista para sábado (6).

Unterstell diz que uma novidade implementada pelo Reino Unido são dias temáticos, que acabam mobilizando e reunindo diferentes atores ao redor de assuntos específicos. Nesta quarta-feira (03), foi dia de debater o financiamento e as medidas econômicas necessárias para desenvolver o combate ao aquecimento global. Já nesta quinta-feira, o tema é energia e como acelerar uma transição mais limpa.

“Enquanto isso estão acontecendo negociações superdifíceis e elas serão passadas para os ministros na semana que vem”, explica a especialista.

Vamos limitar em 1,5ºC, mas como?

Ainda no domingo (31), em Roma, os líderes do G20 se reuniram em uma espécie de “aquecimento” para a COP26 na Escócia. O grupo se comprometeu mais uma vez com um velho objetivo que já não foi cumprido anteriormente: limitar o aumento médio da temperatura do planeta em 1,5ºC.

A meta de 1,5ºC foi assinada no Acordo de Paris, em 2015, mas, segundo os climatologistas e os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, precisa urgentemente de medidas mais ambiciosas por parte de todos os países, sobretudo os mais emissores: Estados Unidos, China, Rússia, União Europeia, Índia e Brasil.

O G20, grupo de países que representam 80% da economia do planeta, pediu uma ação “significativa e efetiva”. Os líderes, no entanto, não apresentaram uma data precisa para chegar até a neutralidade de carbono: o texto diz apenas “por volta da metade do século”.

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