Quinta-feira, 24 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 16 de fevereiro de 2021
Menos de um ano desde a primeira onda da covid-19, seis pessoas de duas famílias de imigrantes brasileiros voltaram a dormir no chão do aeroporto de Lisboa, como havia acontecido em abril e maio de 2020. Eles estão entre um grupo de aproximadamente 360 pessoas, reunidas em um grupo de WhatsApp, que têm passagens de volta ao Brasil compradas e pressionam o governo brasileiro para o fretamento de voos de repatriamento durante a proibição de viagens comerciais entre os dois países, que vigora desde 29 de janeiro e acaba de ser prorrogada até 1º de março.
A maior parte diz não ter condições de se manter em Portugal ou arcar com os custos extras de incluir uma conexão até o destino, alternativa para deixar o país recomendada pelo Consulado Geral do Brasil em Lisboa. As viagens foram suspensas devido ao agravamento da pandemia em Portugal depois das festas de Natal e ao temor da chegada de novas variantes do coronavírus encontradas no Brasil.
As camas improvisadas entre as bagagens e sacolas plásticas não impediram que os três filhos de Aline Kelle Rodrigues Reis — de 3,11 e 13 anos — dormissem, mas a mãe reclamou do chão duro. Acordou com o corpo dolorido, mas, segundo ela, o que dói mais é o descaso.
— Descaso, sim, porque enviei diversas mensagens para órgãos do governo e para a companhia aérea, que não quis mudar minha passagem marcada para esta quarta-feira de Lisboa-São Paulo para Lisboa-Madri-São Paulo. A justificativa, em plena pandemia, é que tinha comprado as passagens com milhas — disse Reis, que dividiu a primeira noite com os filhos e uma outra família de duas pessoas.
Por não haver previsão de voos de repatriamento ou indicação de que as companhias revejam a política de troca de passagens neste momento, cresce no grupo de WhatsApp “Volta à nossa pátria” a mobilização para uma pressão direta no aeroporto. Embarcar para o Brasil em voos com conexões em outros países é permitido, e quem pôde arcar com os custos extras, ou já tinha essa rota programada na passagem original, conseguiu deixar Portugal.
Não é o caso de Reis, que acabou retirada pela polícia do aeroporto no meio da manhã desta terça-feira. Ela entregou o apartamento em Figueira da Foz, nos arredores de Coimbra, porque já havia comprado a passagem, e agora diz não tem onde morar.
— Tenho necessidade de voltar ao Brasil porque as aulas dos meus filhos recomeçaram no dia 8. Tenho casa e trabalho me esperando no Brasil e aqui não tenho mais nada — declarou Reis.
Mineira de Uberlândia, Reis chegou em Portugal há um ano e trabalhava como babá. A pandemia acabou com o emprego e ela precisou que enviassem dinheiro do Brasil para sobreviver. Poupou apenas os €200 para os testes obrigatórios de Covid-19 dela e do filho mais velho, além de um pouco mais de dinheiro para alimentação.
A situação de Reis expõe o drama econômico de trabalhadores brasileiros em Portugal, que, depois de perderem o emprego na pandemia, estão sem dinheiro e sem casa. A dificuldade de retorno é apenas a parte mais visível de um problema que atinge aqueles sem reserva financeira ou negócio próprio.
Entre os estrangeiros, os brasileiros lideram a fila dos desempregados em todas as regiões de Portugal. Ao todo, existem 17 mil imigrantes inscritos no Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), sendo, 5,5 mil do Brasil (32%), segundo informou o órgão.