Quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de fevereiro de 2024
Diante da investigação da Polícia Federal sobre militares suspeitos de participarem de uma tentativa de golpe no país, o comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, defende uma “investigação completa” e garante que, caso seja comprovada a participação de integrantes de sua tropa, haverá punição. “Qualquer coisa que fira nossos diplomas disciplinares será punida”, disse o oficial ao jornal O Globo, em entrevista na qual demonstra alinhamento ao presidente Lula.
– Como o senhor avalia as investigações da PF sobre uma suposta trama golpista no governo Bolsonaro? “O Comando da Aeronáutica coaduna com a necessidade de uma investigação completa, garantindo a ampla defesa e o contraditório a todos os envolvidos, seguindo o necessário rito processual previsto no ordenamento jurídico vigente. Qualquer coisa que fira nossos diplomas disciplinares será punida. Para a Força Aérea, as notícias (sobre as investigações) vieram a confirmar o papel institucional e constitucional de nossa organização.”
– O senhor tomou conhecimento de reunião, no governo anterior, para discutir atos antidemocráticos? “Não tivemos informação nenhuma a respeito disso. Não sabia do que acontecia dentro do Palácio. A Força Aérea foi profissional, focada na sua missão. Nessa mesa aqui (do Alto Comando) não se falava de política. A nossa posição foi de isenção em relação ao governo Bolsonaro. Tivemos uma visão de Estado e devemos isso às posições de nossos ex-comandantes. Mas não dá para fugir da relação com o governo.”
– Houve participação de militares da FAB da ativa nos ataques de 8 de janeiro? “Não que eu tenha conhecimento. Se corre alguma coisa na Justiça, ainda não fomos informados.”
– Como está a relação da Força com o presidente Lula? “A minha relação com o presidente sempre foi muito urbana. Ele tem uma grande preocupação com o reaparelhamento das Forças Armadas e, por exemplo, uma vontade muito grande de que a gente desenvolva uma turbina (de aeronaves). Poucos países do mundo fazem isso. Lula é apaixonado por essa agenda de Defesa.”
– Ainda há desconfiança de ambos os lados? “Aqui nessa mesa (do Estado-Maior da Aeronáutica) somos dez (brigadeiros) quatro estrelas. Internamente, estamos muito focados em defesa aérea e preparação para guerra. Não temos desconfiança de nada. Há uma grande confiança entre os dez do Alto Comando. Temos que trabalhar em apoio ao governo. Não tive nenhum movimento dentro da Força em que tivesse que tomar medida disciplinar por conta do momento político. Não podemos nos envolver diretamente com a política, mas temos que apoiar a política do momento. Não podemos deixar de ser felizes por quatro anos, esperando que o candidato A ou B se reeleja ou se eleja. A nossa atividade independe de governo. Somos força de Estado.”
– O senhor defende a passagem para a reserva de militares que se candidatarem? “Ao optar em se candidatar, o militar deve ir para a reserva. O normal é não se eleger. E o fato de eles voltarem para a Força fazendo proselitismo político é muito ruim. A Força tem que ser prioridade de cada um. Se eu faço uma opção de ir para a política, isso aqui deixou de ser prioridade. Fez opção, peça as contas e vá para a reserva. Numa democracia, a harmonia entre o senso político e senso de dever profissional é essencial. Você vota em quem quiser. Mas quando coloca a farda, tem que estar focado na missão.”
– E assumir função no Executivo? “Aí, vejo com outros olhos. Temos quadros fantásticos, com formação dentro e fora do Brasil, pagos com recursos da União. Esses podem sim ser bons quadros no Executivo e, dentro de um prazo, colaborar com o governo, mas sem cargo eletivo. Neste caso, sou terminantemente contra (a passagem para a reserva).” As informações são do jornal O Globo.