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Comandante do Exército defende parceria com a China: “Um país que está no foco de nossos interesses”

Tomás Ribeiro Paiva afirmou que a viagem que fará ao território chinês no próximo mês focará em ciência e tecnologia e capacidades militares do País asiático. (Foto: Reprodução)

O comandante-geral do Exército, Tomás Ribeiro Paiva, defende que o Brasil amplie parcerias estratégicas com a China e com outros países do Brics, grupo que reúne também nações como Rússia, Índia, África do Sul e, mais recentemente, Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes, Etiópia e Egito. Em entrevista ao Estadão, ele afirmou que a viagem que fará ao território chinês no próximo mês focará em ciência e tecnologia e capacidades militares do País asiático.

Paiva disse que pretende visitar todos os países dos Brics (já esteve na Índia) e que só não irá à Rússia por causa do conflito com a Ucrânia. Em um momento especialmente tenso entre China e Estados Unidos, o comandante do Exército acredita que a ida à China não terá potencial para criar algum mal-estar com os aliados dos Estados Unidos. “Temos um intercâmbio comercial muito intenso com a China e não acredito que possamos nos levar por uma polarização ideológica. Nós sempre fomos pragmáticos nesse sentido”.

Na conversa, ele também defendeu a reinstalação da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos do regime militar. Quase 30 anos depois de o presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) ter assinado a Lei 9.140 que previa todo um processo de reconhecimento da responsabilidade do Estado brasileiro pelas graves violações de direitos humanos e crimes praticados pelos agentes da ditadura, o comandante defende que a reativação aconteça logo. A Lei foi suspensa pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

Paiva falou com o Estadão no 11º Grupo de Artilharia Aérea, onde participou da comemoração do Dia da Artilharia. “Isso já está definido e tem que ser entendido como uma questão humanitária, a gente tem que saber o que aconteceu”, afirmou Paiva.

Na entrevista, o comandante também rechaçou a politização dos militares da ativa, abordou a relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, elogiou o ministro da Defesa, José Múcio, reconheceu as dificuldades orçamentárias para garantir o investimento nas Forças Armadas e exaltou o trabalho dos contingentes que atuam na atenção às vítimas da tragédia do Rio Grande do Sul.

Veja trechos da entrevista:

1) Você vai para a China agora, não é? Quais parcerias você acha que dá para fazer com a China?

O contexto da viagem à China é um contexto que é planejado no começo do ano com o Estado-Maior do Exército, que tem a incumbência de tratar das relações internacionais que a gente tem, e temos selecionado quatro viagens internacionais por ano. É o que dá para fazer. Uma dessas viagens geralmente sempre é coincidente com a Conferência dos Exércitos Americanos.

No ano passado, a gente encerrou o ciclo de dois anos da Conferência dos Exércitos Americanos. Então, todos os países da América se reúnem em um país-sede para o encerramento e, geralmente, para a abertura. Esse ano, as conferências internacionais começaram no México, que é o país-sede da Conferência dos Exércitos Americanos.

Eu já fiz uma segunda viagem à França e à Polônia, que foi a indicação do Estado-Maior do Exército, para tratar de cooperação militar, geralmente a gente trata de cooperação militar, e procura integrar esse nosso planejamento com o Ministério das Relações Exteriores. O Ministério das Relações Exteriores tinha um interesse em que a gente se aproximasse dos países do Brics.

Com a China, a gente já tinha uma relação anterior muito boa. Essa relação de cooperação já era muito patente no intercâmbio de cursos. A gente já tinha militares que a gente mandava para lá, ainda tem até hoje, tem militares que fazem curso na China.

E também recebemos militares chineses para cursar no Brasil nas nossas escolas. Teve até cadete chinês que passou um ano na Academia Militar das Agulhas Negras. A gente espera aumentar a colaboração na cooperação acadêmica, obviamente, que eu acho que já existe, é muito boa.

Também na parte de ciência e tecnologia, eu acho que tem coisas para a gente poder conversar, porque eles são um polo de pesquisa de ciência e tecnologia. E também na parte de indústria de defesa, interessante, porque eles estão avançados nessa área. Esses são os principais temas que são comuns e que interessam os dois países.

Mas lembrando, eu tenho cooperação, eu já fui aos Estados Unidos, eu já fui à Índia. Então eu preciso ir à China e eu preciso ir à África do Sul. Eu estou evitando de ir à Rússia, porque a Rússia está em conflito. Então, nesse tempo a gente suspendeu, mas também é um país membro do Brics. Então, eu acho que, agora, é comum vários integrantes do Alto Comando, em diferentes épocas recentes, visitaram a China. É um país que está no foco dos nossos interesses.

2) Nesse clima de confronto entre China e Estados Unidos, quais interesses o Brasil tem e o que pode nos prejudicar?

Eu não acredito que vá nos prejudicar. Primeiro, porque a gente tem um intercâmbio comercial muito grande com a China. Esta semana tem uma comitiva, uma delegação brasileira lá, o vice-presidente está lá, o chefe da Casa Civil está lá. A relação comercial e a relação diplomática são intensas, é muito significativa.

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