Terça-feira, 22 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 20 de abril de 2025
Em um dos momentos mais tensos do 8 de Janeiro de 2023, Flávio Dino segurou o general Marco Edson Gonçalves Dias, o G. Dias, responsável pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, pelos braços e o sacudiu levemente.
Era fim de tarde no gabinete do ministro da Justiça, e as principais autoridades que estavam em Brasília naquele domingo tinham se reunido para discutir a invasão dos prédios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal. Pelas janelas ainda se via muitos manifestantes bolsonaristas perambulando pela Esplanada mas, até então, ninguém havia sido preso.
— Vocês não estão entendendo a gravidade do que está acontecendo bem na nossa frente. Estão calmos! Se não for quem está nessa sala para fazer alguma coisa, quem vai fazer? — prosseguiu, aos gritos, diante de um grupo que incluía seus colegas da Defesa, José Múcio Monteiro, e das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão, e seu secretário da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, o recém-designado interventor na segurança do DF, Ricardo Cappelli, e outros assessores do Ministério da Justiça, então comandado por Dino.
Agitadíssimo, o ministro começou a listar o que precisaria ser feito: apreender os ônibus que tinham levado manifestantes a Brasília em grande quantidade nos dias anteriores, fechar os acessos à cidade para evitar fugas e prender os acampados em frente ao Quartel-General do Exército no Setor Militar.
Fazia alguns dias que Dino manifestava aos assessores mais próximos inquietação diante das notícias sobre uma manifestação prevista para o primeiro fim de semana depois da posse de Lula. Desde a tensa transição, Dino via paralelos entre o clima em Brasília e o que antecedeu o golpe militar que depôs o governo João Goulart em 1964. A cada incidente, como a queima de carros e ônibus nas proximidades da sede da PF na diplomação de Lula ou o achado de uma bomba nas proximidades do aeroporto às vésperas do Natal, ambos os fatos em dezembro de 2022, ele fazia correlações com os fatos que antecederam a ditadura militar no Brasil.
Os eventos da transição e o 8 de Janeiro ditaram a curta, porém marcante, passagem do maranhense, de 56 anos, pelo Ministério da Justiça. A cadeira foi conquistada graças à experiência administrativa na segurança pública como governador do Maranhão por dois mandatos e pelo passado como juiz federal e o conhecimento na área.
A coexistência nem sempre pacífica entre a formação jurídica e a vocação para a vida pública de Flávio Dino de Castro e Costa veio de berço. O pai, Sálvio Dino, era advogado, mas também foi vereador, deputado estadual cassado depois do golpe de 1964 e, posteriormente, prefeito do município de João Lisboa. O avô, Nicolau Dino, foi juiz de carreira no Maranhão.
Sua trajetória é marcada por um zigue-zague entre o Direito e a política, cujo mais recente lance foi a sua nomeação por Lula, ainda no primeiro ano do terceiro mandato, para uma das 11 cadeiras do Supremo Tribunal Federal (STF).
O convite não foi recebido com os arroubos de alegria que podem advir da chegada ao topo da carreira do Judiciário, mas como a confirmação da máxima de que uma missão de presidente da República não se recusa.
O dilema entre a política e a judicatura voltava a se apresentar, e o temor de todo o grupo político era de que fosse o final de uma carreira que tinha como horizonte nunca confessado uma candidatura à Presidência no pós-Lula.
Quando o questionam sobre se o Supremo é o fim da linha do embate interno entre o político e o profissional do Direito, Dino costuma contar que, quando estava evidente que Lula o nomearia para a Corte, se aconselhou com Nelson Jobim, também com passagens pelo ministério da Justiça e pelo STF. Não era a primeira vez que Jobim tinha sido consultado. Em 2006, o ex-ministro foi procurado para opinar sobre a hipótese de Dino deixar a magistratura para concorrer a deputado.
— Ministro, quase 20 anos atrás eu lhe perguntei se deveria largar a magistratura para ser político e o senhor me disse: “Vá, e se você se arrepender você volta!”. Agora está com essa possibilidade de o presidente Lula me indicar para o Supremo. O que eu devo fazer?
Pelo sim, pelo não, Dino hoje tem pregada, na porta do seu gabinete no STF, uma foto do ex-deputado Ulysses Guimarães do lado de fora do Congresso, feita pelo fotógrafo Orlando Britto. Assim, quando chega para trabalhar todo dia, dá de cara com São Francisco de Assis e, quando sai, se despede do Senhor Democracia.
Quem conhece o ministro há mais tempo, não acredita que este tenha sido o último movimento do vaivém. As informações são do portal O Globo.