A Fifa definiu a data de sua visita à sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e avisou que pretende se reunir com o presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues. Nesta quinta-feira (4), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes determinou a recondução de Rodrigues à frente da CBF. A Fifa vai desembarcar em solo brasileiro no dia 8 de janeiro.
A comitiva também pretende entrar em contato com membros do governo federal. “A delegação tem a intenção de encontrar, na sede da CBF, entre outras pessoas, o Ednaldo Rodrigues Gomes, membros relevantes do governo federal, o José Perdiz de Jesus [interventor até a decisão de Gilmar Mendes], a cúpula da gestão da CBF, assim como outras partes relevantes envolvidas no caso em sua passagem pelo Brasil”, anunciou a Fifa.
“Por isso, pedimos gentilmente à CBF se podemos realizar estas reuniões com as pessoas e partes acima mencionadas entre a tarde de 8 de janeiro e a tarde de 10 de janeiro de 2024, e pedimos que nos forneça um cronograma para essas reuniões”, completou a entidade, em carta assinada por Kenny Jean-Marie, chefe do escritório das federações, e por Monserrat Jiménez Granda, vice-secretária-geral da Conmebol.
No mesmo documento, a Fifa informou que a comitiva será composta pelo advogado espanhol Emilio Garcia Silvero, chefe do escritório jurídico e de compliance da Fifa; pelo georgiano Nodar Akhalkatsi, diretor de projetos estratégicos e governança; e pelo advogado Rodrigo Aguirre, especialista em litígio da Conmebol.
Curiosamente, Akhalkatsi também integrou a comitiva que protagonizou a intervenção da Fifa na Federação de Futebol da Índia, em 2022. Na ocasião, a entidade suspendeu a federação por ter sofrido “interferência externa”, o que resultou, entre outras consequências, da retirada do Mundial Sub-17 feminino do país – estava marcado para outubro do mesmo ano.
Entenda
O julgamento que acabou tirando Ednaldo do poder do futebol tratou da legalidade de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a CBF e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) em março de 2022. Na época, o TAC permitiu que a Assembleia Geral da entidade elegesse Ednaldo presidente. Mas os desembargadores Gabriel Zéfiro, Mauro Martins e Mafalda Lucchese consideraram inicialmente que o MP não poderia ter ajuizado Ação Civil Pública (ACP) contra as eleições realizadas pela entidade em 2017, quando Rogério Caboclo foi eleito.
A revisão ocorreu a pedido de dois ex-presidentes da CBF, Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero. Assim, o TAC também foi considerado nulo. Outros dirigentes de federações também acionaram a Justiça.
A CBF e o MP-RJ firmaram o TAC porque o órgão da Justiça considerava ilegais as regras que regiam a eleição na confederação, ou seja, a que levou Ednaldo Rodrigues ao cargo de presidente. Isso porque uma mudança no estatuto da entidade, em 2017, estabeleceu pesos diferentes para os votos praticados por federações e clubes – a brecha permitia clubes e federações de votarem em conjunto para eleger o presidente. Foi sob essa regra que Rogério Caboclo elegeu-se presidente da CBF em 2017, indicado pelo então dirigente afastado Marco Polo del Nero. Caboclo foi destituído, em meio a denúncias de assédio.
Ednaldo, então vice-presidente da CBF, assumiu o comando de forma interina após o afastamento de Caboclo. Opositores tentaram barrar a eleição de março de 2022 alegando que o TAC fora assinado por ele, como presidente interino, e serviu para referendar uma eleição que o tornaria presidente de fato.