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Por Redação O Sul | 17 de agosto de 2019
A cerca de 70 dias do primeiro turno da eleição presidencial na Argentina, marcado para o dia 27 de outubro, a população enfrentou uma das semanas mais turbulentas desde que Mauricio Macri assumiu a Presidência da República, em dezembro de 2015. Saiba como a turbulência eleitoral afetou a vida dos argentinos e aproximou rivais. As informações são do portal G1.
Numa espécie de primeiro turno antecipado, como avaliaram analistas e políticos de diferentes linhas ideológicas, os eleitores argentinos deram ampla vitória à oposição nas primárias partidárias, realizadas no domingo (11). A chapa formada por Alberto Fernández e Cristina Kirchner, ex-presidente agora candidata a vice, atingiu um patamar que garantiria a vitória no primeiro turno.
O impacto eleitoral nos mercados e no cotidiano dos argentinos foi imediato no dia seguinte à derrota do presidente Macri, que terá bastante dificuldade para reverter o quadro e conseguir se reeleger.
O dólar disparou (passou dos 46 pesos para acima de 60 pesos), e as ações desabaram numa queda histórica de 37,9% da Bolsa de Buenos Aires.
A moeda americana tem efeito imediato sobre os preços locais e, por extensão, sobre a inflação argentina – antes da turbulência, a taxa prevista era de 40% neste ano.
Operações cotidianas, como a venda de seguros de viagem, com preços baseados em dólar, foram suspensas na segunda-feira (12), e retomada com novos valores nos dias seguintes. O mesmo ocorreu, segundo a imprensa local, com as concessionárias de automóveis.
O sentimento de surpresa e decepção podia ser testemunhado em outros segmentos da economia.
Peso econômico na eleição
Pouco depois de assumir a Casa Rosada, em 2015, Macri descongelou as tarifas dos serviços como de transportes públicos, luz e gás. As duas últimas passaram a ser tão altas, principalmente comparadas aos padrões anteriores, que começaram a ser cobradas em duas parcelas.
Em muitos relatos de eleitores, independentemente do setor social, as queixas parecem similares e, segundo economistas, medidas de Macri como o tarifaço acabaram estrangulando o poder de compra e o consumo dos argentinos.
“Se a Argentina aumentou tarifas é porque tínhamos ficado sem nada. Sem petróleo, sem gás, sem energia elétrica (durante o kirchnerismo). E hoje temos tudo isso e estamos exportando novamente energia”, disse a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, outra das porta-vozes do governo na semana de crise.
Durante o kirchnerismo, esses preços administrados chegaram a ser tão baratos quanto um refrigerante. O sistema econômico daquela gestão defendia manter as tarifas artificialmente baixas a fim de conter a inflação, incentivar o consumo e manter um certo patamar de atividade econômica em funcionamento, ao segurar, por exemplo, o preço de combustíveis.
Com a derrota nas primárias, Macri ficou no “labirinto” de continuar fazendo campanha e governar, mas, principalmente, mostrar que tem “governabilidade” até a data de passar a faixa presidencial (ou não) no dia 10 de dezembro.
Em reação, Macri disse ter “entendido o recado das urnas” e fez uma série de anúncios durante esta semana, como o aumento do salário mínimo e dos planos sociais, além de medidas impositivas, para tentar conter a insatisfação do seu eleitorado que, como ele disse, está fazendo esforços além dos que imaginou diante da crise socioeconômica.
Para combater a volatilidade financeira e a incerteza política, o presidente ligou para o rival Fernández, na quarta-feira (14), e o mercado financeiro sugeriu uma trégua, no dia seguinte, com leve baixa do dólar.
“Mas é uma trégua muito frágil. Os dois, Macri e Fernández, mostraram vontade de diálogo. Mas se não assinarem nenhum acordo a incerteza vai continuar. É preciso evitar o que o país já viveu quando Alfonsín renunciou seis meses antes do fim do mandato e a falta de um acordo sólido com Menem acabou alongando a crise e a hiperinflação”, disse o analista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, de Buenos Aires.