O tricampeonato mundial consagrou Lionel Scaloni, visto de início com desconfiança para dirigir a seleção, mas que atestou sua competência apesar da pouca experiência. Sem nunca ter dirigido um clube, o ex-jogador assumiu o cargo após a recusa de grandes nomes em pegar uma equipe que vinha de um fracasso na Copa de 2018, e soube acomodar novos talentos em torno de Messi, seu grande avalizador.
No Catar, Scaloni fez escolhas certas ao mexer no esquema a cada jogo, em especial após a derrota na estreia para a Arábia Saudita. Ontem, foi certeiro em promover a volta de Di María. Aos 44 anos, ele contribuiu também para a pacificação da crise institucional na Associação de Futebol da Argentina, e se tornou o treinador mais novo a conquistar uma Copa após o conterrâneo Cesar Luis Menotti, que tinha 39 anos em 1978.
“Na mesma mesa não creio que estou, eles (Menotti e Carlos Bilardo, campeão em 1986) marcaram época. É só uma partida de futebol, mas para Argentina é algo mais, eu sei”, declarou o treinador, que renovou seu contrato, contemplando o Mundial de 2026.
Em 2017, antes da guinada na carreira, Scaloni era auxiliar do técnico Jorge Sampaoli no Sevilla, da Espanha. Com ascensão meteórica, cinco anos depois acumula, além de um Mundial, uma Copa América em cima do Brasil, em 2021, e o título da Finalíssima, que confronta os campeões da Conmebol e da UEFA, com um categórico 3 a 0 sobre a Itália, este ano. O ponto de virada da seleção argentina apontado por muitos foi o tropeço na semifinal diante do Brasil na Copa América de 2019. Ali Scaloni disse ter notado que havia bons talentos para montar uma equipe, sem abrir mão de Messi.
“Pudemos rodear Messi de grandes jogadores, e ele precisava se sentir partícipe. Tínhamos material. Foi um ano depois de ter assumido. Na nossa trajetória, começamos a jogar de outra forma em 2019. Interpretamos como os jogadores se sentiam no campo”, afirmou o técnico depois da conquista no Catar.
O título da Copa América em 2021, encerrando jejum de 28 anos sem conquistas, sinalizou que o trabalho estava no caminho certo. Nas Eliminatórias, veio a certeza, com a classificação para o Catar obtida de forma invicta, sem dar chances aos adversários. Depois da vaga assegurada, Scaloni revelou uma conversa com Messi e disse ter ficado um pouco preocupado com a expectativa criada pelos argentinos por um novo título mundial.
“Estávamos passando para as pessoas algo grande, e a desilusão também poderia ser forte. As pessoas estavam entusiasmadas. Ele me disse: ‘Seguiremos, não vai acontecer nada se não tentarmos’”, contou o técnico, que revelou ter trocado a ansiedade por dar uma resposta ao povo de seu país pela satisfação de entregar um sentimento de confiança: “Me dei conta de que fazíamos algo bom.”
Lembrança de Maradona
Após a vitória nos pênaltis sobre a França, no Estádio de Lusail, Scaloni não conteve a emoção e chorou muito, abraçado aos jogadores e à sua família. Na entrevista coletiva, mais uma vez a emoção aflorou e ele não conseguiu segurar as lágrimas. Primeiro, com o filho no colo, lembrou do pai, já falecido, e dedicou à sua família a conquista de ontem. Em seguida, falou de Maradona como se o eterno ídolo argentino estivesse ali presente, no campo, comemorando junto com todos eles:
“Espero que ele lá em cima tenha desfrutado. Seguramente estaria no campo, seria o primeiro torcedor. Agora que me faz a pergunta, me dei conta de que não está.” As informações são do jornal O Globo.