Domingo, 27 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 12 de junho de 2019
O Telegram, um aplicativo de mensagens pouco conhecido no Brasil, ganhou evidência nos últimos dias após a divulgação de conversas atribuídas a procuradores da Lava-Jato e a Sérgio Moro. Os diálogos teriam ocorrido na época em que o atual ministro da Justiça era juiz federal no Paraná.
Saiba como essas conversas foram obtidas, se o Telegram pode ser invadido, como ele funciona e se ele é mais ou menos seguro que o concorrente WhatsApp.
Como as conversas vazaram?
O Telegram nega que seu servidor tenha sido invadido e sugere que a possível invasão tenha ocorrido no aparelho celular onde o aplicativo está instalado. Recentemente, Moro denunciou que teve seu celular hackeado – e procuradores disseram ter sido alvo do mesmo tipo de crime.
Mas o site Intercept, que divulgou as supostas trocas de mensagens envolvendo o ministro, disse que obteve os diálogos antes de possíveis invasões ilegais. Segundo o Intercept, as informações foram obtidas de uma fonte anônima.
Onde ficam as mensagens do Telegram?
A principal diferença entre Telegram e WhatsApp é a maneira como as mensagens são salvas. No Telegram, elas ficam nos servidores da empresa. Já no WhatsApp, as mensagens antigas ficam salvas no próprio aparelho.
Com isso, se o usuário acessa a conta do Telegram em outro dispositivo (celular, tablet ou computador), ele pode baixar todo o histórico de conversas.
No WhatsApp também dá para baixar o histórico de conversas. Mas esse histórico fica em um arquivo na nuvem (Google Drive ou iCloud, por exemplo), e não no servidor do WhatsApp. Ou seja, para baixar as conversas, o hacker precisa da senha do Google Drive e do iCloud, além do WhatsApp.
O Telegram é mais seguro que o WhatsApp?
Para Altieres Rohr, especialista em segurança digital que tem um blog no G1, o WhatsApp é, hoje, muito mais seguro que o Telegram com relação a mensagens antigas.
Os dois aplicativos têm modelos totalmente diferentes um do outro:
O WhatsApp armazena todas as mensagens trocadas em apenas um único telefone, e não “em nuvem” (servidores da empresa). As mensagens enviadas por um celular são criptografadas (isto é, protegidas) de ponta a ponta – elas não ficam nunca “descriptografadas”, nem no servidor, como é o caso do Telegram. Um hacker que invade uma linha até pode ativar o WhatsApp, mas ele vai ter acesso apenas à conta, e não às mensagens anteriormente enviadas ou recebidas. Além disso, o WhatsApp não permite que outros aparelhos de telefone sejam ativados com um mesmo número – o aplicativo exige que o usuário ative um telefone como central, que envia e recebe as mensagens. O WhatsApp pode ser usado em computador (no modo WhatsApp Web), mas essa opção não funciona se o smartphone estiver desligado ou sem conexão com internet.
O Telegram é um programa “em nuvem” (ou seja, todo o conteúdo das conversas fica armazenado nos servidores da empresa). As mensagens enviadas por um celular não são criptografadas de ponta a outra – elas saem criptografadas de um aparelho, mas depois são “descriptografadas” no servidor do Telegram. Um hacker que invadisse uma linha e entrasse em uma conta de Telegram teria, automaticamente, acesso ao histórico de mensagens. Além disso, o Telegram permite que uma conta seja ativada em vários aparelhos ao mesmo tempo – o aplicativo não limita o uso a um telefone que funciona como central. O Telegram funciona em computadores sem relação com o celular (e não é necessário que ele esteja conectado à internet). O único tipo de conversa do Telegram que não fica armazenado on-line é o chamado “chat secreto”.
“A maneira mais fácil de ver as mensagens antigas de outra pessoa no WhatsApp é ativando uma sessão do WhatsApp Web. Isso requer acesso completo ao aparelho celular. O mesmo truque funciona no Telegram, mas não é o único: o acesso à linha de telefone é suficiente para ativar a conta e ver todas as mensagens. No WhatsApp, mesmo que você tenha acesso à linha, você ainda terá que conseguir acesso ao backup das mensagens da vítima – e pode ser que a vítima nem tenha feito esse backup”, explica Altieres.
Para Altieres, a decisão de usar o Telegram no lugar do WhatsApp por motivos de segurança “não tem muitos fundamentos na realidade”.
Mas há maneiras de aumentar a segurança dos dois aplicativos. Criado em 2013 na Rússia, o Telegram ganhou notoriedade justamente porque, além de prometer sigilo, é um dos aplicativos mais rápidos na entrega de mensagens.