Quinta-feira, 02 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de dezembro de 2024
O ano de 2025 já aquece seus motores. No apagar das luzes de 2024, enquanto o regente Gustavo Dudamel apresentava seu concerto na reinauguração da catedral de Notre Dame, em Paris, o ex-ditador sírio Bashar al-Assad escapava de avião para a Rússia. Enquanto Donald Trump escolhia seus ministros e assessores, uma cirurgia em São Paulo. Enquanto o coreano Yoon Suk-yeol sofria um impeachment, François Bayrou se tornava o terceiro primeiro-ministro da França em 12 meses. As peças se distribuem pelo tabuleiro do ano vindouro.
A principal dessas peças, sem dúvida, é Trump, que vai assumir novamente as rédeas dos Estados Unidos com o poder de influenciar todas as pautas do planeta, da agenda climática até a política econômica do Brasil. A depender de sua disposição e capacidade em cumprir o que promete, o republicano pode determinar o futuro da Europa e do Oriente Médio, bem como da democracia americana. Por isso, apesar de já ter sido presidente entre 2017 e 2020; de alardear suas propostas há anos e de escolher seu ministério a dedo, o líder ainda é visto como uma incógnita.
Para o internacionalista Antônio Carlos Lessa, da Universidade de Brasília, o efeito mais saliente de Trump é seu exemplo. Forças “conservadoras, nacionalistas e até nativistas”, nos termos do internacionalista, vêm ocupando espaços paulatinamente em várias partes do mundo, a começar pela União Europeia. A presença de um líder com mensagens tão explícitas no país mais poderoso do mundo pode servir como incentivo para que esses grupos se radicalizem, produzindo ondas de choque que fortaleçam os resultados eleitorais dessas forças.
Uma pauta da governança global que pode sofrer grandes reveses é a agenda climática. Em 2017, quando assumiu a presidência pela primeira vez, Trump anunciou a retirada de seu país do Acordo de Paris, firmado em 2015 e atualmente o principal documento pelo qual os países se comprometem a combater o efeito estufa e preparar a transição para uma economia sustentável. A expectativa é de que ele tome a mesma medida novamente.
Essa possibilidade emerge justamente no ano em que o Brasil assume um papel de liderança nas discussões sobre a descarbonização, como sede da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP), em Belém. O encontro tem a particularidade de incluir a revisão decenal das metas do acordo fechado em Paris em 2015. Nesse contexto, conforme Maria Netto, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade, há uma expectativa grande com o Brasil.
Cenário local
Na política brasileira, a chave de 2025 é que se trata de um ano encavalado entre dois períodos eleitorais. Anos assim tendem a ser mais calmos para os governos, com os parlamentares disponíveis para votar projetos e os ministérios concentrados em apresentá-los. E não faltam pautas: na mesa estão cortes de gastos, remoções de incentivos fiscais, alterações na tributação da renda e do patrimônio. Também constam mudanças legais com impacto de longo prazo, como os mercados de carbono e a definição legal do hidrogênio verde.
]A calmaria entre eleições não quer dizer que este seja um tempo completamente desprovido de cascas de bananas. De um lado, a classe política, a começar pelos deputados e senadores, já se preocupa com os arranjos da disputa de 2026. De outro, os ecos de 2024 não são favoráveis ao Planalto, já que o pleito municipal apresentou uma clara vantagem para as oposições.
Não será surpresa se a próxima reforma ministerial resultar em mais espaço para o PSD de Kassab. Também há pressões de outros partidos que saíram fortalecidos do processo eleitoral, como o União Brasil, o MDB e, à esquerda do espectro político, o PSB. “O governo tem margem de manobra, mas seu fator limitante é o quadro partidário. Já em fevereiro, com as novas mesas diretoras decididas no Congresso, sua missão mais delicada é montar um ministério que reflita as articulações feitas e se mantenha capaz de aprovar sua agenda”, afirma a cientista política Denilde Holzhacker, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).
As mudanças nas mesas diretoras da Câmara e do Senado serão decisivas para as pretensões do governo. Sai de cena o presidente Arthur Lira (PP-AL), personagem polêmico e poderoso dos últimos quatro anos. Em seu lugar deve entrar seu candidato, Hugo Motta (Rep-PB), o que indica continuidade. No Senado, a expectativa é de que Davi Alcolumbre (União-AP) retorne à presidência.