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Espionagem ilegal: Como três filhos de Bolsonaro usaram a estrutura da “Abin paralela” para fins pessoais

Agência atuou ilegalmente em favor do vereador Carlos Bolsonaro, do senador Flávio Bolsonaro e do pré-candidato a vereador Jair Renan durante o governo do ex-presidente. (Foto: Reprodução/X)

Em um novo capítulo das investigações da Polícia Federal (PF) sobre o monitoramento ilegal realizado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), a corporação relata como a estrutura paralela foi utilizada para beneficiar filhos do antigo chefe do Executivo.

O relatório mostra que a agência atuou ilegalmente em favor do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e do pré-candidato a vereador Jair Renan (PL-SC). Na ação dessa quinta (11), estavam sendo cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Entenda como os filhos do ex-presidente utilizaram a Abin para fins pessoais:

Carlos Bolsonaro

Na decisão que autorizou a operação, o ministro do STF Alexandre de Moraes destaca que a rede paralela da Abin foi utilizada contra o senador da República Alessandro Vieira, que, ao tempo dos fatos, encaminhou requerimento para que o vereador Carlos Bolsonaro prestasse esclarecimentos na “CPI da Covid” e tivesse seus sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático quebrados pela Justiça.

Segundo a PF, a estrutura paralela mandava marcar Carlos Bolsonaro em postagens nas redes sociais com fake news que miravam adversários políticos. Em diálogos interceptados pela PF, membros da “estrutura clandestina” combinaram de marcar o filho do presidente, por exemplo, em postagens que atacavam Vieira.

A PF aponta que a “difusão da desinformação ocorria com a devida ‘marcação’ de integrante do NÚCLEO-POLÍTICO CB – CARLOS BOLSONARO”. Em uma das mensagens, Giancarlo reforça: “Acho que merece uma Thread marcando o Carlos Bolsonaro…”. De acordo com os investigadores, “as ações clandestinas ocorreram em represália às ações do Senador da República no exercício de seu cargo”.

A CPI da Covid, instaurada em 2021, investigou a condução da resposta à pandemia de Covid-19 pelo governo Bolsonaro e propôs o indiciamento do então presidente por nove crimes.

Flávio Bolsonaro

A PF também identificou um áudio em que o ex-presidente, o então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem (PL), e o então ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, foram registrados falando sobre a investigação envolvendo o senador Flávio Bolsonaro no caso da suposta “rachadinha”.

Segundo a PF, eles estavam discutindo supostas irregularidades que teriam sido cometidas por auditores da Receita Federal na elaboração de um relatório de inteligência fiscal que originou o inquérito contra o filho 01 do presidente. O áudio tem 1 hora e 8 minutos de duração, é datado de 25 de agosto de 2020 e foi encontrado em um aparelho de Ramagem. Uma das advogadas de Flávio também estaria presente na reunião.

De acordo com as investigações, Ramagem disse na gravação que “seria necessário a instauração de procedimento administrativo” contra os auditores da Receita “com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”.

O relatório da PF ainda aponta que integrantes da chamada “Abin paralela” tentaram levantar “podres e relações políticas” dos auditores da Receita. O suposto desvio de verba pública – a chamada “rachadinha” – teria ocorrido no gabinete de Flávio, quando ele era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Ainda segundo o documento, o servidor Christiano Paes Leme Botelho foi exonerado da chefia do Escritório da Corregedoria da Receita Federal no Rio de Janeiro (Escor07) após a elaboração do relatório que fundamentou a investigação das “rachadinhas” contra Flávio, que nega qualquer interferência no órgão federal.

Jair Renan

O relatório da PF mostra também que a estrutura paralela foi utilizada para produzir provas a favor do filho 04 do ex-presidente, o pré-candidato a vereador de Balneário Camboriú (SC) Jair Renan. Ele era alvo de um inquérito pela suspeita de tráfico de influência. Essa investigação foi arquivada um ano depois.

Segundo a PF, as ações clandestinas “teriam sido determinadas pelo 01 conforme interlocução dos investigados”. O relatório não identifica especificamente quem seria o tal ’01’. A mensagem foi enviada por um integrante da “Abin paralela” após ele pedir o monitoramento de “carros em nome do filho Renan”.

“Veja quais carros estão em nome do filho Renan do PR (presidente). Veja da mãe dele tb. Msg do 01”, diz a mensagem interceptada.

“Os agentes também realizaram pesquisas envolvendo o inquérito policial instaurado contra Renan Bolsonaro, possivelmente a pedido do então do Presidente da República Jair Messias Bolsonaro”, escreveu a Procuradoria-Geral da República (PGR) em relação ao diálogo captado pela PF.

Em março de 2021, a PF abriu um inquérito para investigar se o filho 04 do então presidente estava atuando para marcar reuniões e abrir portas no governo federal para empresas privadas. O caso começou a ser apurado na Procuradoria da República do Distrito Federal (PR-DF), após representação de parlamentares da oposição. Depois, a Procuradoria remeteu o caso para a PF entrar na apuração.

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