Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de dezembro de 2016
Tudo começou quando um garoto de 16 anos Filadélfia, nos Estados Unidos, se perguntou por que ele e seus colegas tinham que ler 10 versos da Bíblia e, em seguida, recitar o Pai Nosso todos os dias no colégio, antes de fazer o juramento de lealdade à bandeira americana.
O ano era 1956 e Ellery Schempp era cristão, mas também havia lido a Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que diz que: “O Congresso não poderá criar nenhuma lei que diz respeito ao estabelecimento da religião, nem proibindo a livre prática da mesma; nem limitando a liberdade de expressão, nem de imprensa; nem o direito à assembleia pacífica das pessoas, nem de solicitar ao governo uma compensação por danos”.
A primeira frase do artigo, pensou Schempp, indicava que nenhuma religião deveria ser considerada superior a outra, além de garantir o direito de praticar qualquer religião.
E a mensagem geral da frase era, em sua interpretação, a separação entre a Igreja e o Estado.
Por isso, ele decidiu parar de perguntar por que sua escola pública os obrigava a ler versos da Bíblia e começou a questionar se o colégio sequer poderia fazer isso.
“Ele ficou perplexo; ninguém nunca havia dito algo assim para ele”, diz Schempp, que hoje é um físico aposentado, à BBC.
“Ele me mandou para a sala do diretor, que ficou igualmente perplexo e me disse: ‘É uma questão de respeito. Há 1.300 estudantes no colégio e todos respeitam [o ritual das orações]. Por que você não?’.” “Eu respondi que, na minha opinião, isso era um princípio muito importante de liberdade de fé e de justiça.”
O que começou como um protesto discreto de Schempp acabou definindo grande parte de sua vida.
Eram os primeiros anos da Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, e uma parte da sociedade estava ansiosa por retratar os EUA como um país devoto do cristianismo.
“O país tinha acabado de sair da era McCarthy. O Congresso havia acabado de adicionar a expressão ‘uma nação submissa a Deus’ no juramento de lealdade à bandeira americana, para contrastar com o que diziam ser ‘os comunistas ímpios’.”
Não só a Pensilvânia como dezenas de Estados permitiam leituras da Bíblia em escolas públicas. Por isso, o diretor do colégio de Schempp não reagiu bem a sua declaração de princípios. “Ele concluiu que eu era um garoto perturbado e me mandou para o psicólogo da escola, que pensou que eu tinha problemas com a autoridade ou com meus pais”, relembra. “Eu garanti a ele que não, que eu acreditava que eles me apoiariam.”