Da noite para o dia, o aplicativo indiano Koo recebeu milhões de brasileiros em busca de alternativas ao Twitter, que vem passando por grandes mudanças após a aquisição de Elon Musk por US$ 44 bilhões, concluída em outubro passado. Com as controversas decisões do bilionário, a rede social americana pode apresentar falhas e deixar muitos usuários órfãos do microblog – daí a ascensão da Koo, cujo nome excêntrico no português chamou atenção.
“O nome ajudou o boca a boca, mas existe um sentimento de que precisamos de uma alternativa caso algo aconteça com o Twitter”, conta o indiano Mayank Bidawatka, cofundador da Koo junto de Aprameya Radhakrishna. “O Brasil foi extremamente solidário enquanto ria do nome da rede social e quando percebeu que somos capazes de rir de nós mesmos como marca”, completa o executivo.
A brincadeira, porém, transformou-se em negócio sério. A Koo diz possuir 2,5 milhões de pessoas conectadas pelo aplicativo para iOS e Android, além dos usuários indianos. Ao contrário de redes sociais como Facebook e Twitter, a companhia não revela os números de usuários diários ativos na plataforma (DAUs, na sigla em inglês), métrica para avaliar o tamanho da rede.
Agora, o objetivo de Bidawatka e Radhakrishna é transformar a Koo no maior microblog do Planeta, superando o Twitter, atualmente com 250 milhões de usuários ativos diariamente. A plataforma indiana divide com o rival americano não só a inspiração do logotipo (que também é um passarinho), mas diversas funcionalidades, como possibilidade de republicar conteúdo, dar “koortidas” e ver assuntos do momento.
Como diferencial, a Koo promete não cobrar usuários (uma das promessas de Musk para o Twitter, tentando diversificar a receita da empresa para além da publicidade) e moderar conteúdo, forçando um ambiente “alegre e próspero” para os usuários, diz Bidawatka.
“O comportamento nocivo de Elon Musk é uma oportunidade para nós, com certeza. Sempre gostei muito de usar o Twitter, mas acredito que temos uma solução melhor”, diz o CEO. “Temos propósito diferente, que é conectar o mundo.”
Veja os principais pontos da entrevista com o cofundador do aplicativo, Mayank Bidawatka.
1. Como vocês descobriram que o Brasil adotou a Koo? Foi rápido? De repente, vimos um monte de gente entrar no Koo e começar a falar em português. Estávamos nos perguntando o que estava acontecendo. Então pensamos que tínhamos muita gente de Portugal. Mas quando vimos os dados, percebemos que a localização de todos esses usuários era do Brasil. Isso foi na época em que Elon Musk disse aos funcionários que eles deveriam decidir se queriam ficar ou sair do Twitter. Em todo o mundo, havia muita dissidência e muita preocupação, e isso se acelerou no Brasil.
2. Como você descobriu como soa o Koo em português? Foi quando entramos no Twitter e começamos a traduzir o que as pessoas falavam. Os brasileiros estavam rindo muito disso. O bom é que muita gente saiu para experimentar o produto. E o Koo tem muitas diferenças em relação ao Twitter.
3. Você acha que ter esse nome ajudou o Koo no Brasil? Inicialmente, o nome ajudou o boca a boca. Mas acho que existia um sentimento de preocupação entre os brasileiros, o sentimento de que precisamos de uma alternativa caso algo aconteça com o Twitter. Obviamente, o nome nos ajudou no Brasil, virou uma coisa que todo mundo brincava com os memes. Mas o que realmente nos ajudou quando estávamos nos conectando com o Brasil como marca foi que os brasileiros perceberam que somos muito humanos. Somos muito diferentes do Twitter em termos de atitude e personalidade. Ouviríamos cada usuário e suas reclamações. O Twitter nunca fez isso. Isso foi como uma lufada de ar fresco para muitos usuários naquela época.
4. Quantos usuários brasileiros há agora? Não tenho os números mais recentes, mas está na casa dos milhões. Alguns dias atrás, eram cerca de 2,5 milhões de usuários. Isso é apenas sobre usuários de aplicativos. Os usuários da web têm mais alguns outros milhões.
5. Você tem medo de que as pessoas saiam do aplicativo tão rapidamente quanto entraram? Que o Koo seja apenas uma “coisa de uma noite”. Influenciadores digitais como Felipe Neto estão postando coisas no Koo que não postam no Twitter. Eles estão recebendo muito mais interações aqui conosco. E as pessoas estão extremamente felizes porque este não é um lugar tóxico. Ninguém está abusando de ninguém. Ninguém está dizendo nada desagradável. Todos estão muito felizes. Falei com algumas dessas pessoas e elas estão extremamente satisfeitas com a plataforma.