Uma investigação do Ministério Público Federal (MPF) do Brasil em conjunto com a Procuradoria de Palermo, da Itália, apontou que a máfia siciliana Cosa Nostra, uma das organizações criminosas mais famosas em todo o mundo, articulou um esquema para lavar no Rio Grande do Norte recursos obtidos com atividades ilícitas no país europeu.
O inquérito instaurado há cerca de dois anos mostra que italianos investiram pelo menos R$ 300 milhões em mais de 20 propriedades, como terrenos, mansões e imóveis comerciais, no estado.
Segundo as autoridades italianas, entretanto, o valor total dos ativos investidos aqui podem superar 500 milhões de euros, em valores atuais, mais de R$ 3 bilhões.
De acordo com o procurador da República Fernando Rocha de Andrade, coordenador Equipe Conjunta de Investigação (ECI), após migrarem, os criminosos criaram laços profissionais e pessoais.
“As máfias em geral têm um perfil violento e sanguinário. No entanto, esse braço atuava sobretudo no crescimento econômico dessa organização criminosa, mais especificamente na lavagem de dinheiro de origem ilegal. Então, a partir do monitoramento dessas pessoas, vimos que elas estabeleceram vínculos, se relacionando bem, justamente para comprar e vender esses imóveis, e até um deles se casou com uma brasileira.”
Andrade destacou ainda que as evidências coletadas até o momento indicam que a máfia italiana utilizou empresas fantasmas e laranjas para facilitar a movimentação e a ocultação de fundos ilícitos.
Na manhã dessa terça-feira (13), com o apoio da Polícia Federal, chamada para auxiliar as equipes do Ministério Público, foram cumpridos um mandado de prisão preventiva de um mafioso e cinco mandados de busca e apreensão, em três Estados brasileiros: Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Piauí.
Simultaneamente, a Direção Distrital Antimáfia de Palermo coordenou 21 buscas em várias regiões da Itália e na Suíça. Mais de 100 agentes financeiros italianos foram mobilizados, alguns dos quais se encontram no Brasil, auxiliando o cumprimento dos mandados em Natal.
Os crimes investigados incluem associação mafiosa, extorsão, lavagem de dinheiro e transferência fraudulenta de valores. Como parte das medidas para desarticular o esquema e recuperar ativos financeiros, a Justiça Federal também autorizou o sequestro de imóveis e o bloqueio de contas bancárias associadas aos suspeitos e às empresas fantasmas envolvidas.