Qual é a relação entre um cafezinho e um computador quântico? Alguns dos efeitos do café são conhecidos, como deixar o cérebro mais desperto ou o aumentar acidez no estômago, mas ainda estamos longe de conseguir calcular tudo o que as moléculas de uma substância fazem no organismo.
É aí que entram os computadores quânticos. Com capacidade de processamento muito maior do que a dos computadores tradicionais, essas supermáquinas vão ajudar a desvendar temas complexos, como o funcionamento de compostos químicos específicos – o que poderia ser uma revolução na indústria e na fabricação de medicamentos –, e até os riscos de um investimento financeiro complexo.
Pela primeira vez, a IBM lançou um desses para fins comerciais e científicos, durante a feira de eletrônicos CES. O acesso à supermáquina está sendo vendido para empresas.
O chamado Q System One já foi comprado, entre outras, pela petroleira Exxon Mobil e pela Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (CERN), órgão por trás do acelerador de partículas LHC.
O computador quântico não é vendido online e nem é entregue em menos de 2 dias úteis: é utilizado pela nuvem por empresas que precisam de maior capacidade de processamento justamente para efetuar cálculos e pesquisas bastante específicos.
“Potencialmente, poderemos ter avanços químicos nos próximos 10 ou 15 anos como descobrir um remédio para alguma doença hoje sem cura. No mercado financeiro, será possível criar com mais precisão um modelo matemático do mundo, que ajudará a mitigar riscos em investimentos”, diz Robert Sutor, vice-presidente de pesquisa quântica da IBM.
Quatro indústrias em que o computador quântico será revolucionário:
Indústria química: destrinchar as complexidades moleculares e interações química tornará possível descobrir novos medicamentos e materiais
Logística: encontrar o caminho ideal em cadeias de distribuição global fará o delivery de produtos ser muito mais eficiente
Mercado financeiro: encontrar um modelo de cálculo de risco permitirá diminuir os riscos de investimentos para fundos e empresas
Inteligência artificial: tornar mais eficientes processos da inteligência artificial, como o machine learning, fará as máquinas mais inteligentes
Guarde este termo: qubit
O computador quântico, na realidade, é apenas o pequeno chip na parte de baixo do gigantesco “lustre” dourado.
A grande estrutura ao redor do pequeno chip serve para garantir condições muito específicas de funcionamento, como ausência de ruído e de oscilação elétrica, além de temperaturas tão baixas que beiram zero Kelvin, o zero absoluto, ou -273 °C.
O nosso computador tradicional funciona através de bits, que salvam e escrevem informação em sequências binárias de 0 ou 1. Já o computador quântico usa qubits (se fala “quilbit”) – os bits quânticos.
Os qubits são bastante delicados e só conseguem funcionar em temperaturas muito baixas, que é quando alcançam propriedades da mecânica quântica, daí o nome do computador.
Uma dessas propriedas se chama superposição. Ao invés de escolher entre 0 ou 1, o computador quântico consegue usar a superposição para realizar uma combinação matemática entre 0 e 1, algo difícil de entender intuitivamente. Isso permite que o computador pegue alguns atalhos e realize cálculos mais rápidos.
Outra característica quântica é o entrelaçamento, também um fenômeno da mecânica quântica, que permite a um qubit exercer efeito instantâneo nos outros qubits do sistema, o que acelera ainda mais os cálculos.
Diferença do computador tradicional
Um algoritmo quântico teria que realizar 10 mil operações para encontrar um nome em uma lista telefônica com 100 milhões de nomes. Em comparação, o típico computador binário teria que fazer 50 milhões de operações, na média.
Por essas peculiaridades, espera-se que o computador quântico seja uma revolução na indústria.
O Q System One da IBM tem capacidade de processamento de 20 qubits. Especialistas afirmam que será necessário centenas de qubits para começarmos a ver uma revolução acontecer. Por isso, o lançamento de agora é um passo e não um grande salto na direção do futuro.