A Conferência Nacional de Educação-CONAE é uma espécie de lugar de fala dos principais protagonistas do setor, um dos mais importantes eventos educacionais do país, – a voz de professores, estudiosos e entidades, que se manifesta em documento final, base de um plano para a educação do país em 10 anos. O Plano Nacional é elaborado pelo Ministério da Educação e depois , vai ao Congresso Nacional, que tem a última palavra sobre a matéria.
Da Conferência saiu um texto previsível, uma vez que o CONAE é um espaço hegemônico das esquerdas. Como era de se esperar prevaleceu a concepção política que, em essência, prioriza o papel do estado na educação e denuncia o que considera a influência perniciosa do neoliberalismo no setor. Sim, o mau e velho neoliberalismo, a quem se costuma atribuir, na visão das esquerdas, toda a maldade de que é capaz o capitalismo.
Mesmo sendo um ambiente dominado pelas esquerdas, não faltaram críticas e nem apupos para o ministro da Educação do governo Lula, Camilo Santana. As esquerdas, que reclamam com razão da direita e de suas ideias mirabolantes, alimentam elas mesmas teorias conspiratórias, como a lenda de que é o mega investidor Jorge Paulo Lemann quem dá as cartas no MEC.
As esquerdas encaram a educação como uma arena de luta política e não como uma ferramenta estratégica para alavancar o desenvolvimento econômico, para a superação da pobreza, a criação e distribuição da renda e da riqueza – como fazem os países que deram certo. Assim, um evento da magnitude do CONAE não serve ao propósito de superar o atraso e as mazelas do setor, senão para a afirmação de dogmas ideológicos e de uma visão de mundo.
A discussão se perde no embate das hegemonias, onde o que se pretende é demonstrar o caráter hediondo do “sistema” – ao invés de observar e estudar as formas concretas através das quais os países ricos e desenvolvidos superaram as dificuldades que um dia tiveram.
A educação para essa tribo é tão somente um meio de forjar a “consciência crítica”, a formação de uma certa e bem definida forma de “cidadania” e não uma ferramenta para alcançar a prosperidade material e uma vida decente para todos. Não é por outra razão que prevalece entre nós na formação “humanística”, bacharelesca, livresca, e que se pratica no quadro de predomínio das ciências sociais.
Nada contra as ciências sociais. É através delas que nos olhamos no espelho do tempo, os arranjos institucionais, o ordenamento do nosso espaço de vida e convivência, a formação das comunidades nacionais, a tessitura lenta de nossa identidade. Mas é pacífico que são as ciências exatas – matemática, física, química, biologia – que ditam o rumo da inovação e da tecnologia, as chaves contemporâneas do progresso e da prosperidade.
No CONAE, a questão central da era do conhecimento e da tecnologia foi apenas tangenciada. O debate foi acalorado mais para denunciar a intentona golpista de 2023, o”golpe” do impeachment da Dilma, as mudanças do ensino médio e do currículo feito no governo Temer, as maldades e imposturas da direita e do conservadorismo. Educação? Fica para mais tarde.