Ícone do site Jornal O Sul

Conflito entre Hamas e Israel já deslocou 1,2 milhão de pessoas

Maioria considera que a resposta de Israel aos ataques do Hamas não são justificáveis. (Foto: Reprodução)

O conflito entre Israel e Hamas, que ameaça se expandir para o Líbano —à medida que as Forças Armadas israelenses denunciam o aumento de atividades hostis pelo grupo extremista xiita Hezbollah — provocou um dos maiores êxodos da história da região. Dados da Organização das Nações Unidas e dos governos locais indicam que mais de 1,2 milhão de pessoas foram deslocadas pelo conflito, a grande maioria na Faixa de Gaza, em um movimento descrito como “de proporções bíblicas” por observadores locais.

A ONU, por meio de seu Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha), estimava em até 1 milhão o número de civis deslocados internamente na Faixa de Gaza desde o início do conflito, com o ataque terrorista do Hamas a Israel, em 7 de outubro. Mais de 500 mil deles buscaram refúgio em instalações da Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA), que estima que cerca de 600 mil pessoas atravessaram o vale de Gaza, o limite ao sul da capital do enclave estabelecido pelo ultimato das Forças Armadas de Israel. Delas, 400 mil se amontoam em áreas próximas à fronteira com o Egito.

Êxodo de 1948

Especialistas na política do Oriente Médio comparam o deslocamento palestino atual ao grande êxodo após a guerra de 1948. A Nakba (catástrofe, em árabe), em que casas foram abandonadas à força e uma caravana de mais de 700 mil refugiados deixou o território israelense, tornou-se parte da identidade palestina tanto quanto o Domo da Rocha, na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém.

“A evacuação ordenada pelo Exército [de Israel], na última semana, sob o pretexto de proteger a segurança dos civis antes de uma intensa campanha bélica, é uma operação de limpeza étnica, que afeta centenas de milhares de civis”, disse o historiador palestino Johnny Mansour, de 62 anos, estabelecido na cidade de Haifa, no norte de Israel. “O que está acontecendo em Gaza é a segunda Nakba, a maior desde 1948 e com o mesmo plano. Se as casas dos deslocados forem destruídas agora durante os ataques maciços, não haverá oportunidade de regresso”, acrescentou.

O ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro, além de causar 1.400 mortes, também provocou uma fuga das regiões fronteiriças no Estado judeu. O gabinete do premier Benjamin Netanyahu afirmou ontem que 200 mil pessoas foram deslocadas dentro do país. Ainda de acordo com o governo israelense, metade dos deslocados é de 105 comunidades perto das fronteiras de Gaza e do Líbano, enquanto a outra metade deixou áreas próximas às fronteiras por vontade própria. A Autoridade Nacional de Gestão de Emergências (Nema), vinculada ao Ministério da Defesa, apontou que cerca de 120 mil israelenses recebem atendimento do órgão, após serem retirados de 25 comunidades nos arredores da Faixa de Gaza e de outras 28 comunidades perto da fronteira com o Líbano.

Desde a independência, em 1948, não havia acontecido um deslocamento de população dentro de Israel por questões de segurança do tamanho que estamos vendo agora, com cidades inteiras desalojadas, como Kiryat Shmona, perto da fronteira com o Líbano, com mais de 20 mil habitantes, explica Meir Margalit, de 71 anos, historiador israelense alinhado com a esquerda pacifista e ex-chefe de assuntos palestinos na Câmara Municipal de Jerusalém:

“Mas isso não é nada em comparação com o êxodo que está acontecendo em Gaza. Aqui, só há umas dezenas de milhares de deslocados, que se não são recebidos na casa de familiares, se abrigam em hotéis custeados pelo Estado. Em Gaza, há um milhão de pessoas quase sem-teto. Isso é um crime contra a Humanidade”, disse o historiador.

Impacto no Líbano

Mesmo sem participação direta no conflito, o Líbano também sofre com as consequências do acirramento de ânimos no entorno de Israel e Gaza. A Unidade de Gerenciamento da Cidade de Tiro informou, na quintafeira da semana passada, que mais de 4,2 mil pessoas deixaram suas casas na região sul do país, diante da escalada de violência entre o Hezbollah e as Forças Armadas israelenses. Cerca de 1,5 mil estariam na cidade, de acordo com o relato da Associated Press, mas centenas estariam chegando todos os dias.

Israel deslocou tropas ao norte do país e fez alertas ao governo libanês de que uma declaração de guerra por parte do Hezbollah teria consequências devastadoras não apenas para o grupo extremista com vínculos com o Irã, mas também para o país como um todo.

Sair da versão mobile