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Colunistas Conflito entre Israel e Palestina em 2023: ataque-surpresa do Hamas e suas implicações geopolíticas

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Mapa da região onde o conflito acontece. (Foto: Reprodução/Google Earth)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O grupo islâmico armado Hamas surpreendeu Israel na manhã de sábado (7), com um ataque surpresa que se destaca como um dos mais significativos experimentados pelo país nos últimos anos. Ao reivindicar essa ofensiva, o Hamas anunciou o início de uma operação com o objetivo de recuperar o território.

O conflito duradouro e intrincado entre Israel e a Palestina, que combina elementos políticos e religiosos, se estende por décadas, resultando em um grande número de vítimas fatais e feridos de ambos os lados. Neste texto, você encontra detalhes sobre os acontecimentos atuais e os antecedentes desse conflito que permanece como uma das questões mais desafiadoras e duradouras na geopolítica contemporânea.

Hamas, Israel, Faixa de Gaza: mais um capítulo dos conflitos israelo-árabes em 2023

A ofensiva do Hamas sobre o território israelense, a partir da Faixa de Gaza provocou uma série de questionamentos a respeito dos atores internacionais envolvidos no episódio e das motivações para que ele ocorresse. Quatro perguntas básicas parecem importantes de serem respondidas e conduzem os caminhos desse texto.

Afinal, quem é o Hamas?

A sigla “Hamas” significa “Movimento de Resistência Islâmica”. Trata-se de um grupo sunita palestino, criado em 1987, que atua na Faixa de Gaza e na Cisjordânia e que defende três preceitos: promover o islamismo, praticar a caridade e lutar contra Israel. Desde 2007, governa a Faixa de Gaza, enquanto a Autoridade Palestina comanda a Cisjordânia. O Hamas não reconhece a soberania territorial de Israel e luta pela criação de um Estado palestino abrangendo todas as regiões: Gaza, Cisjordânia, Israel e especialmente Jerusalém.

Por que o Hamas atacou Israel?

Porque discorda do processo de normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita, cujo diálogo, promovido pelos Estados Unidos, tradicional aliado dos israelenses, pode fazer com que Riad reconheça a legitimidade do governo de Tel Aviv na região. O ataque do Hamas é uma demonstração de que a aproximação com Israel não representa o ponto de vista do grupo palestino e que o diálogo entre árabes e israelenses no Oriente Médio não é a política proposta pelo Hamas para a criação da Palestina. Há, portanto, o interesse de retomar o radicalismo pró-Palestina do Fatah, grupo que, no passado, liderado por Yasser Arafat, havia sustentado uma postura fortemente anti-Israel e que, no decorrer do tempo, flexibilizou as relações com os israelenses e que, por isso, passou a sofrer oposição do Hamas. Os líderes do Hamas também têm motivações pessoais para radicalizar as relações com Israel. É o caso de Yahya al-Sinwar, chefe do grupo, e Mohammed Deif, comandante militar, que sofreram com cárcere e perda de familiares nos históricos conflitos contra os israelenses.

Quem apoia o Hamas?

A ofensiva do Hamas surpreendeu pela organização e pelo material bélico utilizado. Foram milhares de mísseis num curto espaço de tempo. Tal aspecto levanta hipóteses sobre auxílios oferecidos por diferentes aliados, entre eles: o Hezbollah, movimento fundamentalista islâmica xiita libanês, que vem externando oficialmente apoio aos ataques do Hamas; o Irã, república xiita que sustenta uma radical política anti-Israelense desde a revolução iraniana, de 1979, e que fornece recursos e armas para o Hamas; o Qatar, monarquia sunita que investe em infraestrutura na Faixa de Gaza e também abastece o Hamas com material bélico.

Por que a criação do Estado de Israel alterou a geopolítica do Oriente Médio?
Com a decisão da Organização das Nações Unidas (ONU) de criar o Estado de Israel, em 1948, três processos históricos passaram a se desencadear na região: primeiro, a escalada de conflitos e de corrida armamentista entre países árabes e Israel pela hegemonia política, militar e econômica no Oriente Médio; segundo, a aproximação entre Estados Unidos e Israel, uma vez que os americanos enxergaram no governo de Tel Aviv um aliado estratégico para dissuadir e debelar ações de Estados árabes para controlar a região, especialmente o petróleo; terceiro; a tensão em torno da criação do Estado da Palestina, uma vez que a comunidade internacional progressivamente convergiu com a ideia de reunir os palestinos em um Estado independente, algo fortemente rejeitado por Tel Aviv.

Vale lembrar que Israel entrou em guerra contra Egito e Jordânia em função da criação do Estado de Israel (1948); contra o Egito e ao lado da Grã-Bretanha e da França por causa do Canal de Suez (1956); contra Egito, Jordânia e Síria, na “Guerra dos Seis Dias” (1967); e novamente contra Egito e Síria no ataque destes a Israel no dia do Yom Kippur (1973). Especialmente a partir da Guerra dos Seis Dias, os Estados Unidos promoveram com Israel uma parceria no âmbito militar, tecnológico e estratégico, que fez com que as forças de defesa de ambos se desenvolvessem, acirrando a competição por armamentos no Oriente Médio, o que vem alimentando a indústria bélica desde então.

A criação do Estado da Palestina e normalização das relações entre Israel e os países islâmicos é algo que não se pode imaginar que aconteça em outro período que não seja o longo prazo. A curtíssimo prazo, fica-se com a certeza de que Israel mais uma vez terá na reação enérgica e violenta um modo de demonstrar poder e soberania na região. E que contará com o apoio estadunidense (hard power) e da simpatia (soft power) ocidental a respeito do tema.

Por Mateus Dalmáz, doutor em História, professor dos cursos de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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