A violência da ofensiva russa no Leste ucraniano, agora com combates concentrados nas cidades de Severodonetsk e Lysychansk, as últimas na região de Luhansk ainda sob controle parcial de Kiev, levanta algumas questões sobre os próximos passos da guerra, além do tempo durante o qual os dois lados conseguirão manter suas atuais estratégias.
Os ucranianos sofrem até 200 baixas diárias e dependem dos armamentos prometidos pelo Ocidente para tentar reverter a situação, enquanto os russos, embora sigam com a narrativa de sucessos nas batalhas, conseguem avanços a conta-gotas, e Moscou parece não saber – ou não revelar publicamente – o que realmente quer com a invasão.
Nos combates pelo controle de Severodonetsk, os russos parecem perto de forçar uma retirada ou uma rendição das forças de resistência. Apesar de não ter grande importância estratégica, assumir o controle da cidade, que hoje está praticamente devastada, seria um passo importante para os russos controlarem Luhansk.
Analistas militares dizem que as forças ucranianas, superadas em número e poder de fogo, estão tentando arrastar o conflito para infligir o maior número de baixas aos russos. A Rússia tem usado sua vantagem em artilharia de longo alcance para bombardear à distância as cidades do Leste da Ucrânia, arrasando-as e matando ou expulsando civis, levantando a questão sobre se vale o custo em vidas de soldados ucranianos para defendê-las. O presidente Volodymyr Zelensky descreveu Severodonetsk as como uma “cidade morta”.
Lá, dizem os analistas, a esperança dos ucranianos é que, ao atrair os russos para o combate rua a rua, eles consigam minimizar a vantagem de Moscou em armas pesadas, pelo menos por um tempo, uma vez que a luta de rua aumenta o risco para a Rússia de que seus bombardeios de artilharia atinjam seus próprios soldados.
“Se os ucranianos tiverem sucesso na tentativa de atraí-los [os russos] para o combate de casa em casa, há uma chance maior de causar baixas aos russos que eles não possam suportar”, disse Gustav Gressel, um especialista em Ucrânia no Conselho Europeu de Relações Exteriores.
Ainda assim, os ucranianos estão assumindo um risco ao atrair os russos para os combates de rua, arriscando-se a ficar presos na cidade – especialmente após a destruição da última ponte que permitiria uma fuga rápida.
Mas com um fluxo lento de chegada das armas do Ocidente, os ucranianos parecem estar calculando que o risco vale a pena por enquanto. Embora os combates de rua matem grandes números de soldados ucranianos, também infligem baixas em maiores quantidades aos russos do que fogo irregular de artilharia ou batalhas de tanques em campo aberto.
Nos últimos dias, os russos conquistaram novas áreas, e destruíram todas as pontes de acesso à cidade, mas não a controlam totalmente.
Falta de água
Milhares de civis, incluindo mulheres, idosos e crianças, estão presos na cidade ucraniana de Severodonetsk, uma das duas sob controle parcial de Kiev na região de Luhansk, com cada vez menos suprimentos de água potável, saneamento e eletricidade, segundo informou a ONU à BBC.
A organização afirmou que há uma situação de emergência nos bunkers sob a usina química de Azot, onde mais de 500 civis estão abrigados contra os intensos combates entre soldados russos e ucranianos. Na cidade, onde a Ucrânia está perdendo até 100 soldados por dia, Moscou parece perto de forçar uma retirada ou uma rendição das forças de resistência, mas as forças de Kiev estariam arrastando as batalhas, trazendo-as para as ruas em uma tentativa de causar mais baixas no inimigo, segundo analistas.
“É uma grande preocupação para nós, porque as pessoas não podem sobreviver por muito tempo sem água”, disse à BBC Saviano Abreu, porta-voz do escritório de Assuntos Humanitários da ONU, acrescentando que é muito preocupante a falta de saneamento e água. “Se eles precisam depender de fontes inseguras, isso traz complicações para a saúde. Temos que garantir, o quanto antes, que as pessoas que ainda estão lá tenham acesso à água.”
Na usina de Azot, os centenas de civis abrigados não recebem suprimentos há duas semanas, segundo informou o líder da administração militar de Severodonetsk à CNN nesta quarta.
“Há estoques de alimentos, mas eles não são reabastecidos há duas semanas”, disse Roman Vlasenko por mensagem. “Assim, os estoques não vão durar muito. Se houver um corredor humanitário, acredito que as pessoas estejam prontas para deixar Azot.”
A ONU está se preparando para fornecer ajuda aos civis presos na cidade, mas atualmente não tem acesso ou garantias para chegar a eles de maneira segura. As informações são do jornal O Globo e de agências internacionais de notícias.