Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 25 de agosto de 2023
O embate entre Larissa Manoela e os pais, Silvana Taques e Gilberto Elias, chocou o público nas últimas semanas. A atriz acusa os progenitores de ocultarem informação financeira e restringirem o acesso dela ao próprio dinheiro. A partir do relato da artista ao programa Fantástico, uma avalanche de histórias de abusos financeiros de pais contra filhos começou a surgir nas redes, contrariando o senso comum de que este tipo de ação só ocorre contra idosos ou pessoas em vulnerabilidade.
A maquiadora Laís Oliveira (nome fictício), por exemplo, viveu uma situação complexa com a mãe. Em 2012, a jovem e as duas irmãs passaram a receber uma pensão pelo falecimento do pai, cujo valor era de R$ 1,3 mil por mês. “A ‘mainha’ nunca nos deixou saber quanto era o valor da pensão, mas sempre dizia que depositava os valores em uma poupança. Ela também sempre fez dívida atrás de dívida”, afirma.
Quando a irmã mais velha de Laís completou 18 anos logo foi “endividada” pela mãe, que parcelou compras em um cartão de loja no nome da jovem e não pagou.
No ano passado, foi a vez de a maquiadora chegar à maioridade. Mais uma vez, a mãe tentou parcelar débitos no CPF “novo”. “Não permiti que ela fizesse qualquer cartão no meu nome. Vi que poderia acontecer o mesmo que aconteceu com a minha irmã.”
Paralelamente, Laís descobriu que a mãe não havia depositado os valores da pensão por morte na poupança, conforme havia combinado. Após mais de dez anos do falecimento do pai, a conta só tinha R$ 967,12 em janeiro deste ano. Deste valor, a progenitora pediu R$ 800 como empréstimo. “Ela prometeu que me pagaria de volta, mas até hoje isso não aconteceu”, diz a jovem.
Apesar de estar magoada, Laís diz que segue fazendo o que pode para auxiliar a mãe. “Como filha, me vejo na obrigação de ajudá-la.”
Manipulação
Ana Paula Hornos, psicóloga clínica e educadora financeira, já atendeu a vários casos de “abuso financeiro” – quando um familiar tem uma disfunção financeira e acaba endividando parentes ou pessoas próximas.
A especialista explica que as condutas, nessas situações, costumam seguir o chamado “ciclo do abuso emocional”. Isso é, o abusador manipula a vítima para que ela atenda aos seus interesses e, conforme a situação vai avançando, pode chegar até mesmo à violência.
Quando a vítima percebe a conjuntura negativa e tenta se desvencilhar, a manipulação volta ao jogo. “É a dependência emocional, a vítima acha que precisa fazer muito para merecer o amor do abusador.”
É justamente por meio do apelo ao emocional que o pai da empreendedora Bianca Cândido (nome fictício), 30 anos, tenta conseguir fazer com que ela empreste dinheiro para ele. “O meu pai sempre teve o nome sujo, a ponto de perder o apartamento em que a gente morava”, afirma. Quando ela abriu a primeira conta, aos 18 anos, não faltaram pedidos do patriarca para que ela emitisse cheques. A situação chegou ao ponto de a empreendedora ter a conta estudantil ‘roubada”, quando estava na faculdade.
“Ele era amigo do gerente do banco e simplesmente solicitou que a minha conta fosse transferida. Ele teve acesso a todos os meus dados.”
Hoje, o pai da empreendedora continua com as finanças em desordem. “Ele tem diabetes, então muitas vezes me liga falando que está na frente do pronto-socorro, passando mal, e que não querem o atender. Fala para transferir dinheiro, e eu transfiro na maior parte das vezes, mesmo sabendo que ele nunca vai me devolver’, relata Bianca.
Limites
Ajudar financeiramente um parente próximo é um gesto nobre, mas exige o estabelecimento de limites. Ana Paula recomenda que o valor desse auxílio a parentes e amigos seja limitado a 10% do orçamento mensal pessoal e que seja sempre uma “doação”, não um “empréstimo”.
Carol Stange, educadora em finanças pessoais, também aponta que o empréstimo deve ser a última opção. Antes disso, ofereça outros tipos de ajuda ao familiar, como orientação financeira ou auxílio para conseguir renda extra. Contudo, se for realmente necessário emprestar dinheiro, que as regras sejam claras.
“Formalize um acordo por escrito, especificando termos e prazos para evitar mal-entendidos futuros”, diz Carol. E, em todas as situações, a principal recomendação é: nunca empreste seu nome a ninguém, para não correr o risco de ter o CPF negativado por dívidas de terceiros.
“Se for para emprestar algo, empreste o dinheiro ou faça uma transferência”, alerta Fabio Louzada, planejador financeiro e fundador da Eu me banco. Para pessoas capazes, como é o caso de filhos adultos que acabam sendo explorados pelos pais e vice-versa, os embates podem ser resolvidos na área civil e até criminal.