Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de junho de 2024
Quem bebe não precisa pagar pelo cafezinho do Parlamento.
Foto: Mário Agra/Câmara dos DeputadosO Congresso Nacional gasta, por ano, R$ 2 milhões com café e açúcar. Para servir os parlamentares, assessores e visitantes que circulam pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal são consumidas 151 toneladas dos produtos. Quem bebe não precisa pagar pelo cafezinho do Parlamento.
Na Câmara, sempre que tem sessão nas comissões, a bebida quente, e adoçada para quem assim deseja, aparece em bandejas e em modestos copinhos de plástico. No Salão Verde, espaço que dá acesso ao plenário, tem um balcão de livre acesso: chegou, pediu, bebeu. De graça. No fundo do plenário, há um espaço mais privativo, onde assessores e deputados têm direito a café também. Há sanduíches disponíveis, mas para estes é preciso pagar.
Se durante a Assembleia Nacional Constituinte era possível ver até pedintes circulando por ali, agora apenas parlamentares, um número seleto de assessores, autoridades, convidados e jornalistas podem frequentar o cafezinho do fundo do plenário.
Nos espaços reservados para bebericar café já ocorreu de quase tudo. No cafezinho do Senado, por exemplo, o antigo PFL realizou um “desaniversário” do PT. Tratava-se de uma festa para celebrar o primeiro terço de gestão do primeiro governo Lula. A inscrição “Precisa começar” estava no grande bolo.
O espaço também já serviu para refeições mais fartas. Certa vez, na Câmara, houve uma farofada de madrugada para saciar a fome de parlamentares que participaram da votação da Medida Provisória (MP) dos Portos. Era 2013.
Em pratos e talheres de plástico, eles puderam comer arroz, frango, mandioca e carne de porco, com a possibilidade de acompanhar a partida entre Palmeiras e Tijuana, do México, pela Copa Libertadores. Teve quem passou fome. A sessão daquele dia registrou o quórum de 420 deputados. Ainda não havia a possibilidade do voto remoto à época.
O cafezinho ainda foi palco para insultos de toda sorte. Como ocorreu na Câmara num embate entre José Genoino (PT-SP) e Roberto Cardoso Alves (PTB-SP). “Se votou contra, não pode receber”, disse Cardoso Alves, protestando que Genoino votou contra a derrubada do veto que impedia o aumento de 30% nos salários dos deputados. “A questão é aumentar salário de parlamentar no momento em que a Câmara processa Hebe Camargo”, retrucou o petista.
Nem mesmo a Casa dos Lordes, o Senado, escapou das brigas. “O PMDB deu uma de macho”, disse o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), celebrando a entrada do partido, que disputava a presidência do Congresso com o PFL em 1996. “É por pouco tempo”, respondeu Epitácio Cafeteira (MA), então líder do PPB, o atual PP, coligado do PFL, hoje União Brasil.
Foi no cafezinho da Câmara que deputados fizeram piadas por votarem com o governo após uma polpuda liberação de emendas. “Pelo Brasil, né?”, afirmou o deputado Igor Timo (Podemos-MG), vice-líder do governo, dando uma gargalhada, no dia da votação do arcabouço fiscal.
O espaço do cafezinho prime da Câmara tem dez mesas e um outro incentivo a quem quiser passar mais tempo por lá — um amplo telão que exibe canais de notícia, mas que sintoniza no futebol quando há alguma partida importante.
No Senado há também um cafezinho no Plenário com um balcão que serve a bebida. Ainda que seja um pouco mais apertado, o espaço é mais cômodo. As cadeiras são acolchoadas e mais espaçosas e o entorno é menos barulhento. Os senadores têm ainda mais comodidade: eles podem ter o café servido diretamente na sua cadeira no Plenário ou em uma comissão.
Diferentemente do produto que está presente na mesa da maioria dos brasileiros, o café servido no Congresso é de tipo superior, com maior qualidade e um sabor mais acentuado do que os tradicionais, com grãos 100% arábicos.
De acordo com Everton Tales, presidente da Associação Brasileira de Classificadores e Degustadores de Café (ABCD), a bebida que é servida no Congresso tem uma quantidade menor de grãos irregulares, o que faz com que o gosto seja menos amargo e mais encorpado do que o tradicional companheiro da manhã dos brasileiros.
“O café tradicional tem um gosto mais acentuado, justamente por ter mais defeitos. Quanto mais você torra o café, para esconder esses defeitos, mais amargo ele fica. Por isso, o café superior é mais encorpado e tem menos amargor. Ele também tem uma torra mais clara do que o tradicional”, explicou o especialista.
Nos mercados brasileiros, o preço dos pacotes com 500 gramas do tipo superior que podem ser degustados no Congresso variam entre R$ 20 e R$ 22. As duas casas do Congresso, porém, pagam mais barato: a unidade é comprada por R$ 10,30 na Câmara e por R$ 9,97 no Senado.