Domingo, 19 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 10 de dezembro de 2024
Indiciado no inquérito da tentativa de golpe de Estado junto com Jair Bolsonaro e mais 35 pessoas, o general da reserva Augusto Heleno está apostando em uma estratégia de defesa baseada na tese de que já havia sido afastado do círculo de confiança do ex-presidente quando o plano de ruptura institucional começou a ser articulado. A informação foi divulgada pela jornalista Bela Megale, do jornal O Globo.
Militares próximos a Heleno relatam que o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) estruturou sua defesa em torno do argumento de que ele teria perdido influência junto a Bolsonaro após a entrada de políticos do centrão no governo, em 2021. Um dos episódios destacados nessa narrativa é a paródia “Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”, feita pelo próprio general. A frase teria causado desconforto e minado seu trânsito na alta cúpula do Palácio do Planalto, reduzindo significativamente seu papel no governo.
De acordo com fontes ligadas ao general, a estratégia de defesa busca demonstrar que ele não teria participado de decisões relacionadas ao plano golpista. A defesa de Heleno planeja enfatizar, por exemplo, que ele não esteve presente nas reuniões realizadas no Palácio da Alvorada após a derrota de Bolsonaro para Lula. Entre esses encontros estava um com comandantes das Forças Armadas, em que teria sido debatida uma minuta que propunha medidas golpistas.
Apesar da narrativa apresentada por Heleno, o relatório final da Polícia Federal (PF) contraria essa versão ao afirmar que o general desempenhou um papel “destacado” no planejamento e execução de ações destinadas a “desacreditar o processo eleitoral brasileiro e subverter o regime democrático”. A PF apresentou como provas anotações atribuídas ao próprio Heleno, que sugerem estratégias para não cumprir decisões judiciais, além de uma agenda contendo orientações manuscritas com ataques à credibilidade das urnas eletrônicas.
A investigação também aponta que o grupo golpista planejava criar um “gabinete de gestão de crise” que seria comandado por Heleno e pelo general e ex-ministro Walter Braga Netto. Segundo a PF, esse gabinete, formado quase exclusivamente por militares, seria instituído após o golpe, que incluía a prisão ou execução do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.