Quinta-feira, 19 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de setembro de 2015
Milhares de mulheres e meninas desaparecem no México todo ano – e muitas nunca mais são vistas com vida. Quando um pai e uma mãe perceberam que a filha deles havia sumido, sabiam que não tinham muito tempo até encontrá-la. Elizabeth notou que algo estava muito errado após 15 minutos do desaparecimento de sua filha adolescente, Karen (nome fictício).
“Eu simplesmente sabia, tinha uma angústia que nunca tinha sentido antes. Procurei nas ruas, liguei para a família e os amigos, mas ninguém a havia visto”, afirma. “Ela havia ido a um banheiro público sem nada – sem dinheiro, sem celular, sem roupas. Pensamos que ela tinha sido sequestrada.”
Karen sumiu, em abril de 2013, aos 14 anos. Um número impressionante de 1.238 mulheres e meninas foram apontadas como desaparecidas no Estado do México, o de maior densidade populacional do país, em 2011 e 2012, segundo os dados mais recentes. Desse total, 53% eram meninas com menos de 17 anos. Ninguém sabe quantas delas foram encontradas vivas ou mortas, nem quantas ainda estão desaparecidas. Esse é o Estado mais perigoso para mulheres – ao menos 2.228 foram assassinadas lá na última década.
Elizabeth registrou o sumiço de sua filha após três horas de busca frenética. Mas a polícia do México só abre uma investigação de desaparecimento após 72 horas do sumiço – isso até mesmo para crianças.
Por causa disso, Elizabeth e seu marido, Alejandro, iniciaram sua própria investigação, que começou com um pente fino nas contas da filha em redes sociais. “Era como procurar uma agulha em um palheiro, mas um homem chamou nossa atenção. Ele aparecia em fotos com armas e meninas com poucas roupas, e era amigo de muitas garotas da mesma idade de nossa filha”, conta Elizabeth.
“Esse homem fez soar o alarme: ele falava como um traficante de drogas, sobre território, viagens, que chegaria logo para vê-la. Ele havia estado em contato com ela poucos dias antes do desaparecimento, e tinha dado um celular a ela para que ficassem em contato, e não sabíamos de nada.”
Aliciamentos pela internet.
Estima-se que 20 mil pessoas sejam traficadas por ano no México, segundo a Organização Internacional para Migração. A maioria é obrigada a se prostituir. Autoridades afirmam que cada vez mais pessoas são aliciadas por meio da internet.
A família de Karen sabia que não tinha muito tempo para impedir que ela fosse levada para fora do país. Pressionaram a polícia para emitir um alerta e espalharam cartazes por terminais de ônibus e cabines telefônicas da Cidade do México. Conseguiram levar o caso da filha a estações de TV e de rádio.
O esforço e a rapidez valeram a pena. Dezesseis dias após o desaparecimento de Karen, ela foi abandonada em um terminal de ônibus, ao lado de outra garota que havia desaparecido em outro Estado. A publicidade assustou o traficante, que planejava levar as meninas para Nova York (EUA). Ele nunca foi preso.
“Esse homem prometeu a ela viagens, dinheiro, uma carreira musical e fama. Ele a manipulou muito bem, e ela, em sua inocência, não entendeu o tamanho do perigo que correu”, afirma Alejandro.
Desde o retorno de Karen, Elizabeth e Alejandro ajudaram 21 famílias desesperadas a reencontrar seus filhos. Mas eles ainda têm um álbum cheio de fotos de outras crianças, algumas com apenas 5 anos, que continuam desaparecidas.