Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de junho de 2022
Cada vez mais evidências indicam que a hipnose é eficaz para muitas pessoas que sofrem de dores, ansiedade, estresse pós-traumático e parto estressante.
Foto: ReproduçãoQuando David Spiegel soube que a sua próxima paciente o aguardava, ele não precisou perguntar o número do quarto. Sua respiração ofegante podia ser ouvida a meio caminho no corredor.
Ao entrar no quarto da paciente, ele viu uma menina de cabelos ruivos de 16 anos de idade sentada na cama, tomada pelo medo, em meio a um ataque de asma. Ao lado dela, a mãe chorava. A menina havia sido hospitalizada com asma pela terceira vez em três meses.
Spiegel era estudante de medicina em turnos pediátricos no Hospital Infantil de Boston, nos Estados Unidos. O ano era 1970. Como parte dos seus estudos, ele tinha aulas de hipnose clínica.
A equipe médica da jovem paciente com asma já havia tentado dilatar suas vias aéreas com injeções de adrenalina. Mas, mesmo depois de duas tentativas, o ataque da menina não diminuía. Spiegel não sabia o que mais poderia fazer.
“Você quer aprender um exercício respiratório?”, perguntou ele. Ela concordou e Spiegel hipnotizou sua primeira paciente. Depois que a menina entrou no estado de transe característico da hipnose, Spiegel estava pronto para fazer uma sugestão – o “ingrediente ativo” do tratamento hipnótico, que em geral se trata de uma afirmação cuidadosamente elaborada para produz uma reação involuntária.
Mas, enquanto a menina estava sentada na cama, calma e concentrada, Spiegel se perguntava qual sugestão deveria fazer. Ele ainda não havia chegado à aula de asma do seu curso de hipnose.
“Então eu criei algo”, conta ele, relembrando o caso. “Eu disse: ‘cada respiração que você fizer será um pouco mais profunda e um pouco mais fácil’.”
A sugestão improvisada funcionou. Em cinco minutos, a respiração ofegante da paciente havia parado e ela estava deitada na cama, respirando confortavelmente. Sua mãe havia parado de chorar.
Foi um momento didático para o médico e para a paciente. A menina cresceu e se tornou terapeuta respiratória, enquanto Spiegel dedicou sua carreira à hipnose clínica. Nos 50 anos que se seguiram, ele fundaria o Centro de Medicina Integrada da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e, pelos seus cálculos, já hipnotizou mais de 7 mil pacientes.
À primeira vista, a hipnose parece um daqueles fenômenos psicológicos que simplesmente não deveriam funcionar. Mas o que a torna tão interessante é que, muitas vezes, ela funciona. Entrar em estado hipnótico, concentrar-se atentamente e ouvir uma sugestão, para muitas pessoas, é o suficiente para tornar aquela sugestão uma realidade.
Quando uma pessoa hipnotizável ouve que o seu braço começará a se mover sozinho, ele irá. Quando ela ouve que será impossível separar seus dedos entrelaçados, será como se eles estivessem presos com cola.
Cada vez mais evidências indicam que a hipnose é eficaz para muitas pessoas que sofrem de dores, ansiedade, estresse pós-traumático, parto estressante, síndrome do intestino irritável e outras condições. E, para algumas delas, a hipnose supera os tratamentos padrão em termos de custo, eficácia e efeitos colaterais.