Sábado, 16 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 5 de outubro de 2021
Um dos problemas na busca incansável da ciência por soluções contra o câncer é que alguns tumores não apresentam sintomas e, quando aparecem, a doença já está muito avançada. O câncer de rim é um desses casos. “Entre 20% e 30% dos pacientes são diagnosticados com metástase”, explica a oncologista do Hospital Vall d’Hebrón de Barcelona, na Espanha, e pesquisadora do Grupo de Tumores Geniturinários do centro, Cristina Suárez.
Como em outros cânceres, o prognóstico nesse estágio, o último dos quatro em que a doença é classificada, é mais comprometido. No entanto, a imunoterapia que é utilizada há alguns anos tem se mostrado como um grande avanço, destaca Cristina Suárez. “Um subgrupo de pacientes se tornou sobrevivente por muito tempo. Graças ao tratamento, o câncer não progrediu.”
Os rins são uma espécie de órgão multitarefa no corpo, cumprem diversas funções e todas elas são fundamentais para a sobrevivência. Por um lado, se desfazem de produtos finais do metabolismo, como a ureia. Além disso, regulam o equilíbrio de líquidos no corpo, retendo água quando há perigo de desidratação e a eliminando quando está em excesso. Uma terceira função é a de ajustar os níveis de minerais como sódio e potássio no sangue. Por último, sintetizam hormônios que estimulam a produção de glóbulos vermelhos e regulam a pressão arterial.
A medicina conhece muito bem as funções que os rins desempenham, no entanto, ao contrário do que acontece com outros tumores, até agora não se conhece fatores de risco determinantes para o aparecimento de um câncer renal.
“O mais claramente associado é o consumo de tabaco, e parece que a obesidade também pode ter uma relação, assim como o mau controle da pressão arterial e das doenças renais avançadas”, aponta Cristina Suárez.
Porém, os especialistas não têm uma resposta clara se os pacientes lhes perguntarem por uma possível origem do tumor. Também não se sabe como preveni-lo, para além de hábitos de vida saudáveis.
O câncer nos rins também está relacionado à idade. Quanto maior a expectativa de vida, mais casos de câncer. No corpo, são produzidas constantemente mutações nas células que poderiam provocar um tumor se não fosse pelo sistema imunológico se encarregando de eliminá-las. Porém, com a idade, essa defesa do corpo perde eficácia. Essa é uma das razões pelas quais a probabilidade de ter um câncer em idades mais avançadas é maior que em pessoas mais jovens. Os tumores renais são diagnosticados mais frequentemente entre a quinta e a sétima década de vida, e o sintoma mais comum é a hematúria, o sangramento na urina.
Embora até 30% dos tumores nos rins sejam diagnosticados com metástase, cada vez mais casos são identificados nos estágios iniciais.
“Há pessoas que se submetem a um exame de imagem por outros motivos e acabam descobrindo acidentalmente uma pequena lesão no rim”, explica a oncologista.
Avanço no tratamento
Nas primeiras fases do tumor, é realizada uma cirurgia. Na última, quando o câncer já se espalhou, é preciso recorrer a outras terapias. As mais inovadoras nos últimos anos e as que tiveram melhores resultados têm sido os medicamentos antiangiogênicos, que cortam o suprimento de sangue ao tumor, e a imunoterapia. Ambas provocaram um ponto de mudança no tratamento da doença. Demonstrada sua eficácia, “o objetivo agora é otimizar o manuseio para manter a doença controlada durante o maior tempo possível”, explica Cristina Suárez.
Até poucos anos atrás, a expectativa de vida de um paciente com câncer renal com metástase era muito limitada. Entretanto, o cenário mudou completamente com o surgimento dos tratamentos antiangiogênicos e imuno-oncológicos, confirmam as pesquisas. De forma concreta, a imuno-oncologia aumenta a sobrevida e reduz as lesões metastáticas, além de poder ser utilizada em praticamente todos os pacientes. Com essa opção, pela primeira vez a doença pode ser controlada e impedida de progredir.
“Diferentes estudos confirmam que em 8% a 10% dos casos há uma remissão completa, ou seja, deixamos de ver a doença nos exames de imagem”, explica a oncologista do Hospital Vall d´Hebrón.
Apesar dos avanços no tratamento do câncer renal com metástase, o ideal é evitar que ele chegue a esse estágio, ressaltam os especialistas. Não existe um teste de rastreio, como para outros tumores, que permita a sua identificação precoce, mas é importante estar atento a qualquer sintoma fora do comum que possa aparecer. O corpo expressa os problemas de saúde por meio de sinais, e são os profissionais de saúde que devem avaliá-los. A fadiga, a perda de apetite ou uma pressão nas laterais ou nas costas podem significar um problema de saúde leve, mas em alguns casos também podem ser sintomas de uma doença importante, como um câncer de rim. Nestes casos, é preciso agir o quanto antes.
A oncologia já dispõe de ferramentas para que as notícias recebidas dentro de alguns meses por um paciente diagnosticado com câncer nos rins sejam boas. Em pessoas que dez ou quinze anos atrás teriam recebido um prognóstico fatal a curto prazo, a imuno-oncologia e outros avanços terapêuticos representaram um passo enorme no tratamento de um câncer tão silencioso como o renal.